Irã retoma enriquecimento de urânio e cancela negociações com a Rússia

Medida é reação à decisão da AIEA de levar país ao Conselho de Segurança das Nações Unidas

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Por Agencia Estado
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O Irã deu início nesta segunda-feira a um novo capítulo em seu ultra disputado programa nuclear. Depois de anunciar o cancelamento das conversas com Moscou para um desfecho negociado para a questão, Teerã reiniciou o enriquecimento de urânio em pequena escala, um movimento que pode levar à produção de combustível para construção de uma bomba nuclear. Diplomatas de Viena garantiram à Associated Press que o Irã já reiniciou sua produção nuclear. "Gases de urânio já foram colocados em três máquinas", disse uma alta fonte diplomática que pediu para não ter seu nome revelado. Outro diplomata confirmou que o enriquecimento limitado começou na usina de Natanz. Segundo a TV estatal iraniana, o chefe do departamento nacional de segurança e relações exteriores, Alaeddin Bouroujerdi, afirmou que o país começou suas atividades de enriquecimento pacífico nesta segunda-feira. Bouroujerdi acrescentou que inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) acompanharam o procedimento. As negociações com Rússia, que estavam marcadas para esta quinta-feira, foram postergadas indefinidamente devido à "nova situação", informou o porta-voz da presidência iraniana, Gholamhossein Elham. Ele se referia à decisão da AIEA de levar o país para o Conselho de Segurança da ONU. O Irã mantém a posição de que seu programa nuclear foi desenvolvido apenas para gerar eletricidade, mas os EUA e alguns aliados americanos afirmam que o programa será usado para produzir uma bomba atômica. Moscou propôs recentemente que o Irã envie seu urânio par a Rússia, onde ele poderá ser enriquecido em um nível adequado para ser usado em reatores nucleares. Na seqüência, o combustível seria reenviado para o Irã para que o país o utilize na usina de Busher. A instalação, que também utiliza tecnologia russa, deve entrar em operação este ano. O plano foi uma tentativa de evitar atritos com os EUA e a União Européia. Para Teerã, no entanto, ele não é apropriado para os interesses do país. Embora o enriquecimento tenha sido retomado, o gás de urânio deve alimentar centenas de centrífugas para que se produza uma quantidade significativa de urânio enriquecido, que - dependendo do grau de processamento - pode ser usado em ogivas nucleares. O Irã está anos distante de botar para funcionar as 50 mil centrífugas que o país diz querer operar como fonte de combustível para sua usina de Busher. Mas mesmo o enriquecimento em pequena escala é significativo porque ele representa uma determinação simbólica de Teerã de ir em frente em desenvolver a tecnologia nuclear. Também nesta segunda-feira Teerã reforçou a terceira ameaça velada de abandonar o Tratado de Não-proliferação Nuclear (TNN). Se a comunidade internacional não concordar com o direito do Irã de enriquecer urânio sob o TNN, "não há razões para continuar nossa política nuclear atual", disse o porta-voz do presidente iraniano, Ahmed Ahmadinejad.

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