IRA surpreende e oferece plano de desarmamento

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Por Agencia Estado
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Num gesto inédito e surpreendente, o católico Exército Republicano Irlandês (IRA) apresentou hoje um plano para neutralizar seu arsenal, informou o general canadense John de Chastelein, chefe da Comissão Internacional Independente de Desarmamento, que não deu detalhes nem fixou datas para a entrega das armas. A iniciativa do IRA é apontada como reação positiva ao novo plano da Grã-Bretanha e da República da Irlanda, patrocinadores do processo de paz, para reativar as negociações e resolver a crise institucional que atinge a província. Está sendo aguardada para a madrugada de terça-feira uma resposta dos partidos políticos norte-irlandeses, católicos e protestantes, ao documento apresentado na semana passada por Londres e Dublin, que inclui propostas concretas para resolver questões delicadas - como o desarmamento dos grupos paramilitares, reformar a polícia do Ulster e retirar as tropas britânicas da província. O gesto do IRA, aplaudido pelos governo da Grã-Bretanha e da República da Irlanda, foi recebido com ceticismo pelas lideranças protestantes. "Trata-se de um importante e significativo passo", definiu o ministro britânico para a Irlanda do Norte, John Reid. "Acho que estamos diante das bases para uma rápida solução da questão das armas." Para o primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, houve um "progresso histórico" que deverá pôr o Acordo da Sexta-Feira Santa (abril de 1998) em prática de uma "forma total". Gerry Adams, líder do Sinn Fein (braço político do IRA) referiu-se à decisão como "formidável acontecimento histórico" e desafiou o Partido Unionista do Ulster (UUP) a rever sua posição. O UUP, do líder protestante David Trimble, retirou do governo norte-irlandês no mês passado, acusando o IRA de "ignorar completamente" o Acordo da Sexta-feira Santa, que define a entrega das armas pelos grupos paramilitares norte-irlandeses (católicos e protestantes) como fundamental para a pacificação do Ulster. Trimble, primeiro-ministro norte-irlandês demissionário, reagiu com muita cautela. Qualificou a iniciativa do IRA de "passo adiante", mas deixou no ar uma série de indagações: "Por que não temos um comunicado oficial, indicando quando começará o desarmamento? Por que o IRA sempre rejeita a idéia de prazo? Estamos muito longe de um desarmamento. Esse gesto do IRA não é tão significativo como os governos (de Londres e Dublin) querem fazer crer." O pastor Ian Paisley, líder do Partido Democrático do Ulster (que rejeita o acordo de paz), reagiu afirmando que não há indicação sobre o início do processo (de entrega das armas pelo IRA). Ele ressaltou que o método proposto pelo IRA "foi deliberadamente mantido em segredo". O general canadense John de Chastelain, chefe da comissão de desarmamento, não deu detalhe sobre suas conversações com o comando do IRA. "Achamos que nossos entendimentos com os representantes do IRA lançam um processo que colocará o arsenal da organização totalmente fora de uso, de uma forma verificável e dentro das propostas fixadas pelo governo (britânico)", limitou-se a dizer o militar.

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