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Iraque anuncia sua nova tropa: 4 mil suicidas árabes

Ataque suicida em Najaf é só o começo, alerta o governo iraquiano. Do lado americano, um militar avisa: "Se, daqui para a frente, matarmos um civil porque ele errou o caminho, a culpa caberá a eles"

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dia depois de um ataque suicida com um carro-bomba em Najaf, no qual morreram quatro soldados norte-americanos, o porta-voz iraquiano Hazem al-Rawi anunciou neste domingo que mais de 4 mil militantes já chegaram ao Iraque e estão prontos para se converter em "mártires". "Os mujahedines (combatentes islâmicos) que estão aqui vieram de todos os países árabes, sem exceção", disse Al-Rawi. "As operações incluirão milhares de árabes que chegam a Bagdá deixando seu trabalho e família, muitos dos quais juraram não retornar a seus países e pediram para ser sepultados no Iraque", acrescentou o porta-voz. "Eles chegaram como guerreiros santos, buscando o Paraíso." O grupo extremista palestino Jihad Islâmica, que hoje reivindicou a autoria de um atentado suicida em Israel, anunciou o envio de um destacamento de seu braço armado, as Brigadas Al-Quds, para cometer atentados contra norte-americanos e britânicos no Iraque. "Nossa jihad (guerra santa) continua. Mais futuros mártires estão chegando", dizia uma nota do grupo. "A batalha contra a ocupação norte-americana está aberta a todas as possibilidades e a causa do Iraque é uma causa árabe e muçulmana e somos parte da nação árabe e muçulmana", declarou o representante da Jihad Islâmica no Líbano, Abu Imad al-Rifai. Medalhas e dinheiro - O governo iraquiano anunciou hoje que Saddam Hussein ordenou condecoração póstuma do autor do atentado de sábado, o suboficial do Exército Ali Hammadi al-Namani, que foi promovido postumamente à patente de coronel. Saddam outorgou a ele duas medalhas e um prêmio à família equivalente a US$ 34 mil, uma fortuna no Iraque. Na estimativa do regime iraquiano, o alto prêmio e as honrarias outorgadas ao governo devem incentivar novos ataques contra as forças invasoras. Dirigindo um táxi, Al-Namani se aproximou de um posto de controle numa estrada perto de Najaf e atraiu um grupo de soldados norte-americanos pedindo socorro. Quando os militares se aproximaram do carro, ele detonou o explosivo. O vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan, afirmou, logo depois do atentado, que outros ataques do mesmo tipo se seguiriam como parte do esforço de resistência. Embora norte-americanos e britânicos tenham questionado a legalidade dos atentados suicidas como ato de guerra, Al-Rawi os defendeu como "uma reação do Iraque aos bombardeios anglo-americanos em áreas civis". "Estão cometendo crimes enormes e horrendos, e a jihad é só uma reação contra seus crimes", disse. Al-Rawi garantiu que o atentado suicida cometido ontem em Najaf por um oficial do Exército que se fez passar por um taxista causou a morte de 11 soldados norte-americanos, e não quatro, como disseram fontes militares dos EUA. "Puro terrorismo" - "É uma pena que recorram a essa tática, pois agora teremos de tratar todo veículo civil como se fosse hostil", declarou o sargento Bryce Irving, da 3º Batalhão do 7º Regimento de Infantaria. "Se, daqui para a frente, matarmos um civil porque ele errou o caminho e se aproximou de nós, a culpa caberá a eles (o regime iraquiano)." Para o general norte-americano, Tommy Franks, o ataque com carro-bomba foi "puro terrorismo". Franks acrescentou que seus soldados tomarão maiores precauções no trato com os civis iraquianos. No mês passado, por meio de uma mensagem difundida pela rede de TV do Catar Al-Jazira, o terrorista saudita Osama bin Laden exortou os iraquianos a usar ataques suicidas como estratégia para conter a invasão anglo-americana. Semanas antes do início da guerra, Saddam advertiu que contava com um "exército de mártires" dispostos a combater os soldados norte-americanos e britânicos. O ministro de Informação do Iraque, Mohamed Said al-Sahaf, disse hoje que, desde sábado, vários civis iraquianos foram mortos a tiros em seus veículos por forças da coalizão "em vingança pelo ataque suicida". Resistência - Desde o início da "Operação Liberdade Iraquiana", oficiais dos EUA e da Grã-Bretanha têm acusado os iraquianos de violarem várias normas das Convenções de Genebra. Segundo as denúncias, o Iraque oculta contingente e equipamento militar em áreas residenciais e utiliza combatentes em trajes civis. Além disso, acusa a coalizão, grupos de iraquianos simulam render-se e atacam os soldados da aliança quando eles se aproximam. No sábado, Al-Sahaf rejeitou as acusações. "Não há militares vestidos de civis, o que há são civis resistindo à agressão", disse. "Trata-se do nosso povo lutando contra os mercenários e invasores." As táticas de guerrilha adotadas pelos iraquianos - principalmente pelos integrantes do grupo paramilitar Fedayin (guerreiros do sacrifício), leal a Saddam - têm sido o maior obstáculo para o avanço das tropas da coalizão na direção de Bagdá. A estratégia militar da coalizão anglo-americana foi derrotada no campo de batalha "graças a nossa visão militar, a nossa correta avaliação da situação e a nossas regras, que o inimigo está sendo forçado a seguir", disse. O porta-voz deu como exemplo o abandono de corpos dos soldados da coalizão no campo de batalha - como foi mostrado nas imagens mostradas pela televisão iraquiana -, que demonstraria que as forças anglo-americanas se retiram precipitadamente ao encontrar resistência. Veja o especial :

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