Iraque é "causa de honra" para extremistas, diz relatório

Documento confidencial teve trechos divulgados a pedido de Bush; texto serviu de munição contra a o presidente após vazar para a imprensa no fim de semana

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Por Agencia Estado
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Um relatório de inteligência desclassificado pelo governo americano nesta terça-feira afirma que a guerra do Iraque transformou-se em uma "causa de honra" para extremistas islâmicos, e tem gerado profundos ressentimentos contra os Estados Unidos. Ainda segundo o documento, antes que melhore, a situação ainda pode piorar. Divulgado por ordem do presidente George W. Bush, o relatório - feito pelos mais experientes analistas dos Estados Unidos - conclui que, apesar dos sérios danos sofridos pela liderança da Al-Qaeda, a guerra disseminou a atuação de militantes terrorista em número e alcance geográfico. "Se essa tendência continuar, as ameaças aos interesses americanos em casa e no exterior se tornarão mais diversas, levando a um incremento dos ataques ao redor do globo", diz o documento. "A confluência de propósitos compartilhados e atores dispersos tornará mais difícil encontrar e destruir os grupos ´jihadistas´." Após vazar para a imprensa no último fim de semana, o relatório - até então confidencial - serviu de munição contra as políticas de Bush no Iraque. Nesta terça-feira, porém, o presidente pediu a desclassificação de trechos do documento, pois argumenta que, analisado em sua plenitude, o texto endossa a visão de que a ameaça terrorista é menor hoje do que antes da destituição de Saddam Hussein. Questionado sobre as críticas durante uma entrevista coletiva na Casa Branca, o presidente disse acreditar que aqueles que consideram que a guerra do Iraque alimentou o terrorismo são ingênuos e estão errados. Às vésperas das eleições legislativas americanas, o relatório, criado em abril por 16 serviços de inteligência dos Estados Unidos, serviu de munição para os críticos das políticas de segurança nacional dos EUA após a invasão do Iraque, em 2003. Bush e seus aliados argumentam que o relatório completo endossa a visão de que o mundo está mais seguro do que antes da guerra. Ainda assim, a presença de mais de três páginas com alertas sobre a disseminação do terrorismo contrasta com a posição defendida pela administração. Outros trechos do relatório divulgados nesta terça-feira: - a crescente oposição dos Iraquianos à Al-Qaeda no Iraque pode levar os combatentes veteranos do grupo a focar seus esforços em outros países; - embora o Irã e a Síria sejam os Estados mais ativos no financiamento do terror, muitos outros países serão incapazes de prevenir a exploração de seus recursos por terroristas; - os fatores bases de incentivo à disseminação dos movimentos extremistas islâmicos são mais fortes do que suas vulnerabilidades. Esses fatores são a insatisfação arraigada e a demora para a adoção de reformas nos países natais dos terroristas, um crescente sentimento antiamericanista e a guerra do Iraque; - cada vez mais grupos "de todas as classes" utilizarão a internet para se comunicar, treinar, recrutar e obter apoio. O relatório também expões algumas das fraquezas dos movimentos extremistas que os analistas acreditam que deveriam ser exploradas. Por exemplo, eles destacam que os militantes pretendem ver a implantação de regimes islâmicos no mundo árabe - algo que será pouco popular para muitos muçulmanos. "Explorar a camisa de força política e religiosa que está implícita na propaganda jihadista ajudaria a dividir os militantes da audiência que eles pretendem convencer", diz o relatório. O documento destaca também que uma eliminação "sucessiva" de líderes chaves da Al-Qaeda como Osama bin Laden, Ayman al-Zawahri e Abu Musab al-Zarqawi também ajudaria no enfraquecimento do grupo. Al-Zarqawi foi morto em junho, mas os dois outros principais líderes da Al-Qaeda (Bin Laden e Al-Zawahri) permanecem foragidos há anos. Texto atualizado às 21h

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