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Iraque: empresas de segurança são ´2ª força de coalizão´

De acordo com relatório da ONU sobre o uso de mercenários no país, empresas ´costumam atuar sem controle, sem visibilidade e com total impunidade´

Por Agencia Estado
Atualização:

As companhias de segurança privadas no Iraque, que já contam com 48 mil empregados, se transformaram na segunda maior força da coalizão que ocupa o país. Elas estão atrás apenas dos Estados Unidos, e à frente do Reino Unido, segundo um relatório divulgado na quarta-feira, 21, por um grupo de especialistas da ONU. Na atualidade, os soldados americanos destacados no Iraque totalizam 140 mil e os britânicos chegam a 7 mil. O Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre o Uso de Mercenários apresentou ao Conselho de Direitos Humanos (CDH) seu relatório anual, no qual expressa sua preocupação com o fato de que as companhias que prestam serviços de segurança no Iraque "não operam sob um comando unificado". "A coalizão (liderada pelos EUA) parecer ter preferido ceder mais e mais responsabilidades de segurança ao setor privado", indica o estudo, que assinala que as referidas empresas "costumam atuar sem controle, sem visibilidade e com total impunidade". Segundo os analistas da ONU, "os empregados das companhias privadas de segurança representam 3 de cada 10 soldados postados pela coalizão" no Iraque, enquanto na Guerra do Golfo, de 1991, essa proporção era de 1 para cada 100. Essa expansão das empresas de segurança no Iraque - ativas em apoio logístico e proteção de comboios, edifícios e pessoas - não se deu apenas pelo aumento do número de seus empregados, mas também de contratos assinados, cujo valor conjunto superou os US$ 100 bilhões em 2006. O Grupo de Trabalho da ONU também afirma ter recebido informações que indicam que essas companhias recrutam pessoas "com antecedentes questionáveis", algumas das quais já "trabalharam previamente para regimes repressivos". Contratistas O relatório cita o caso de contratistas da África do Sul, que trabalharam em seu país durante o apartheid, e atualmente são encarregados de treinar os recrutas da polícia e do Exército iraquianos. Acrescenta que dois sul-africanos que trabalhavam no Iraque receberam anistia, após confessarem "ter cometido crimes contra a humanidade na África do Sul", ao tempo que um ex-policial é acusado de ter assassinado 15 ativistas contra o apartheid. Segundo os analistas, "a privatização do uso da força leva inexoravelmente à impunidade". "Apenas 1 de cada 20 denúncias de violações de direitos humanos contra prisioneiros no Afeganistão e Iraque, atribuídas a empregados de empresas de segurança, chegam aos tribunais", afirmam. Em termos econômicos, o Grupo da ONU indica que um contrato original para a prestação de serviços de segurança pode gerar US$ 11 mil mensais por guarda, mas que é comum que a companhia originalmente selecionada subcontrate outras empresas para cumprir o acordo inicial. Esse processo conduz à contratação de pessoas "em países com baixos custos trabalhistas e altas taxas de desemprego", explica, assinalando que os funcionários podem chegar a receber somente US$ 1 mil, ao tempo que a diferença fica com os subcontratistas.

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