Iraque pede a exilados que aceitem anistia e voltem

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Por Agencia Estado
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O governo do Iraque afirmou a oponentes exilados que eles foram perdoados e podem retornar, enquanto alguns iraquianos promoviam uma manifestação pedindo informação sobre parentes presos que, aparentemente, não foram beneficiados pela anistia decretada nesta semana. Oponentes de Saddam Hussein vivendo no exterior disseram não acreditar que seja verdadeira a oferta de retorno seguro ao país. O Iraque já executou, no passado, exilados que aceitaram tais ofertas. O governo vinculou o oferecimento aos exilados a uma anistia anunciada no domingo, que foi apresentada como um agradecimento à nação pelos 100% de apoio que Saddam teria recebido num referendo. Críticos disseram que se tratou de uma tentativa desesperada de angariar apoio interno, em vista das ameaças dos Estados Unidos de derrubar Saddam. Hoje, cerca de 50 iraquianos foram ao Ministério da Informação, alguns afirmando que ainda estavam aguardando parentes presos e exortando autoridades a dar informação sobre eles. Os manifestantes gritavam slogans pró-Saddam e anti-EUA, mas o raro protesto pode ser um sinal de que o gesto de Saddam criou expectativas que ele não pôde cumprir. Guardas dispersaram os manifestantes depois de 15 minutos. Eles retornaram posteriormente para um novo protesto. Autoridades do Ministério do Interior tentaram manter os repórteres à distância. O Iraque nunca divulgou quantos iraquianos estavam presos. Grupos internacionais de direitos humanos acreditam que existiam dezenas de milhares de prisioneiros políticos. O governo insiste em que as prisões iraquianas foram esvaziadas. A televisão estatal mostrou imagens de celas vazias. Autoridades afirmaram que mesmo aqueles condenados por assassinato foram libertados e têm um mês para buscar o perdão dos familiares das vítimas. Anteriormente, o governo havia dito que homicidas condenados não seriam libertados até terem sido perdoados pelas famílias das vítimas. "A anistia é uma grande oportunidade oferecida pela liderança iraquiana para aqueles que cometeram um erro ou um pecado que tenha se tornado um peso para eles", escreveu hoje num editorial de primeira página o jornal Al-Thawra. "Os iraquianos vivendo no exterior deveriam aproveitar essa chance e retornar ao país, onde eles podem viver em dignidade e paz com suas famílias", acrescentou o jornal, publicado pelo governista Partido Baath. Ahmed al-Haboubi, um ex-ministro agora vivendo no Cairo, disse à Associated Press: "O regime tem feito tais gestos desde que assumiu o poder em 1968, mas sempre se voltou contra seus oponentes e ou os prendeu ou os executou". Mohammed Abdul Jabar, porta-voz do grupo oposicionista Aliança Islâmica, disse que os exilados iriam considerar a oferta uma piada. "Saddam deveria pedir perdão ao povo iraquiano. Ele não está em posição de perdoar iraquianos", afirmou, por telefone, de Londres. Opositores lembraram o que ocorreu com dois genros de Saddam. Os dois irmãos, casados com filhas de Saddam, fugiram para o exílio em 1995 e conversaram com agentes de inteligência ocidentais. Eles voltaram ao Iraque seis meses depois, aceitando uma oferta de perdão, e foram mortos horas depois do desembarque.

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