Iraque receberá "nota boa", adianta ONU

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Por Agencia Estado
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O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed el-Baradei, dirá na segunda-feira ao Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) que seus inspetores precisam de mais tempo para vistoriar locais suspeitos no Iraque e Saddam Hussein está obtendo "bons pontos" na cooperação, antecipou à Associated Press o porta-voz da entidade, Mark Gwozdecky. A intenção de El-Baradei é dar nota "B" para Saddam, ressalvando que o Iraque teria de proporcionar mais informações e facilitar o acesso da ONU aos cientistas de seu programa de armas. "O acesso e a cooperação são bons. Fomos onde queríamos e quando quisemos. No geral, temos tido êxito em obter o que necessitamos", disse Gwozdecky. As amostras colhidas no território iraquiano para análises no laboratório da AIEA, em Viena, não revelaram rastros de material nuclear e os tubos de alumínio achados no país - suspeitos inicialmente de servirem a um programa nuclear - não teriam sido adquiridos com finalidade armamentista, indicará El-Baradei, disse o porta-voz. Baradei - encarregado da parte nuclear das inspeções - e o chefe da equipe de peritos da ONU em Bagdá, Hans Blix, apresentarão na segunda-feira um balanço de dois meses de trabalho no território iraquiano, mas o embaixador americano na organização, John Negroponte, também adiantou a posição de seu país: os EUA explicarão porque estão convictos de que Saddam não está cumprindo sua obrigação de desarmar-se. Na terça-feira, o CS tomará uma decisão sobre a cooperação iraquiana. Em Tóquio, o subsecretário norte-americano de Estado, John Bolton - o diplomata mais graduado do país na questão do controle de armas - assegurou que os EUA têm provas "muito convincentes" de que o Iraque mantém um programa de armas de destruição em massa e as apresentarão "no momento adequado". Bolton disse que as armas em poder de Saddam incluem mísseis balísticos de longo alcance vedados ao Iraque desde o fim da Guerra do Golfo (1991). "Essa é a informação que temos e, num momento adequado e de modo apropriado, apresentaremos as violações iraquianas." Reiterando declarações de outras altas autoridades norte-americanas, o subsecretário afirmou que o relatório de Blix será cuidadosamente examinado, mas "a verdadeira questão" não é o que os inspetores acharam ou não, e sim o cumprimento das resoluções da ONU. De acordo com um grupo oposicionista iraquiano, ouvido pela emissora britânica BBC, tropas de elite do Iraque foram equipadas com roupas adequadas e antídotos contra armas químicas que o país pretende usar caso seja atacado pelos EUA. A emissora informou ter tido acesso a documentos demonstrando que Saddam prepara uma reação com esse tipo de armamento. O governo britânico não quis comentar a notícia, assinalando apenas que não é surpreendente porque um dossiê divulgado pelo primeiro-ministro Tony Blair, em setembro, mencionava essas substâncias proibidas em posse do Iraque. A última resolução da ONU, de número 1.441 aprovada por unanimidade pelo CS em novembro, ameaça o governo iraquiano com sérias conseqüências caso não cumpra seu compromisso de eliminar o programa e as armas de destruição em massa. O Iraque entregou em dezembro, conforme determinado pela 1.441, uma declaração sobre seu arsenal, na qual negou possuir tal armamento. Hoje, o governo iraquiano informou ter recebido solicitações da ONU para mais entrevistas, em particular, com três cientistas envolvidos no programa armamentista do país e os "encorajou" a dar seu depoimento. Os EUA estão pressionando pelos encontros privados com especialistas, bem como sua remoção, com as famílias, para fora do Iraque, para garantir que proporcionem dados sobre as armas proibidas. Segundo o subsecretário de Defesa, Paul Wolfowitz, o serviço secreto norte-americano obteve a informação de que Saddam teria ordenado a execução de cientistas que colaborarem com a ONU. Os EUA e a Grã-Bretanha continuam enviando tropas e armas para o Golfo Pérsico, embora não tenham obtido ainda o apoio, para o lançamento de uma guerra, de aliados importantes na área como a Turquia. O líder turco Recep Tayyip Erdogan, dirigente do partido mais importante do país - o da Justiça e Desenvolvimento, que chefia o governo - criticou duramente ontem a política dos EUA para o Iraque e definiu como "hipócrita "sua intenção de desarmar país. Erdogan frisou que o governo turco não concordará com uma ação militar se ela não tiver o aval do CS. Os EUA estão tentando negociar o uso das bases turcas num eventual ataque ao território iraquiano, vizinho do país.

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