Iraque se prepara para conferência com Estados Unidos e Irã

Evento discutirá violência no país, embora encontro entre líderes de Washington e Teerã sejam a principal novidade por conta de conflitos sobre programa nuclear

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Por Agencia Estado
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O Iraque prepara nesta sexta-feira, 08, a conferência sobre a violência sectária no país, no qual se apresentará a rara oportunidade para que os EUA e o Irã sentem-se à mesma mesa no mesmo momento que o programa nuclear iraniano gera muita tensão. O evento promoverá o encontro de autoridades de médio escalão vindas dos países vizinhos do Iraque, dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) - Rússia, China, Grã-Bretanha, França e EUA - e de outros países da Liga Árabe. O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, convocou o encontro de sábado a fim de angariar suporte para os esforços de impedir o Iraque de mergulhar em uma guerra civil total capaz de alastrar-se para outros países da região. Os EUA, ao dizer que não ignorariam a Síria e o Irã caso os dois desejem conversar sobre a pacificação do Iraque, deram seu sinal mais claro até agora de que estão abertos a negociações com aqueles dois países. "Se, entre um gole e outro de suco de laranja, formos contatados pelos sírios e os iranianos para discutir uma questão relacionada com o Iraque e que seja pertinente -- a construção de um Iraque seguro, pacífico, democrático -, não vamos virar as costas e sair andando", afirmou David Satterfield, do Departamento de Estado dos EUA. Uma reunião de nível ministerial deve acontecer em abril. Bronca americana Durante coletiva de imprensa em sua visita ao Brasil, Bush foi questionado por um jornalista da imprensa americana sobre suas expectativas para à convenção no Iraque. "Minha expectativa é de que a democracia pode levar à paz", disse Bush. Acrescentou que a mensagem americana para a Síria e para o Irã é que "se os iranianos não cooperarem para uma solução, nós nos defenderemos e defenderemos o povo do Iraque das armas enviadas pelo Irã". O encontro é positivo para Maliki, disse o presidente americano. E os EUA aceitaram participar do encontro porque a harmonia entre os vizinhos é importante para que se alcance a paz no Iraque. Segundo Bush, os iraquianos "vão ver que seus vizinhos estão apoiando seus esforços pela liberdade e pela paz" O governo americano acusa o Irã e a Síria de fomentarem a insurgência atualmente em curso no território iraquiano. Segundo Satterfield, que coordena a área do Departamento de Estado responsável pelo Iraque, a postura adotada pelos sírios e pelos iranianos determinaria, ao menos em parte, se negociações bilaterais serão ou não realizadas. O Irã e a Síria negam que estejam contribuindo para a onda de violência verificada no Iraque. Os EUA, que não possuem relações diplomáticas com o governo iraniano, mantiveram contato recente com autoridades do Irã em meio a reuniões com outras partes, mas rejeitaram, até agora, a realização de negociações bilaterais. Iraque quer união O governo xiita do Iraque fez um apelo na sexta-feira para que os países vizinhos e as potências ocidentais unam suas forças para evitar que a nação mergulhe numa guerra civil, que poderia se espalhar pela região. Na véspera da realização de uma conferência sobre o assunto em Bagdá, um dos líderes mais poderosos do Iraque, Abdul Azziz al-Hakim, disse a dezenas de milhares de peregrinos xiitas na cidade sagrada de Kerbala que a conferência de sábado deve dar mais força à transição do Iraque para um governo eleito. "Pedimos que os países regionais e internacionais apóiem o Iraque, porque acreditamos que isso vai refletir positivamente na paz internacional e regional", afirmou Hakim aos peregrinos. "Queremos que cada país participante da reunião reforce as conquistas do Iraque nos últimos quatro anos." O premiê xiita Nuri al-Maliki comandará a conferência, que reunirá representantes de Síria, Irã, Arábia Saudita, Estados Unidos e outras potências, na esperança de reduzir os confrontos sectários entre xiitas e sunitas no Iraque. Os vizinhos sunitas do Iraque, liderados pela poderosa Arábia Saudita, temem que a violência com motivação sectarista possa se transformar numa guerra civil, o que poderia provocar um terremoto político que iria bem além das fronteiras do Iraque. Atualizado às 17h56 para acréscimo de informação (Colaborou André Mascarenhas)

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