
25 de dezembro de 2013 | 21h13
Texto atualizado às 22h40
CAIRO - O governo interino do Egito culpou nesta quarta-feira, 25, a Irmandade Muçulmana pelo atentado que deixou 16 mortos na segunda-feira, declarando que a maior organização política do país é um "grupo terrorista" e todas as suas atividades estão oficialmente banidas. O anúncio representa uma inesperada escalada por parte dos militares que em julho derrubaram o presidente Mohamed Morsi, eleito pelo partido da Irmandade.
A organização islamista negou qualquer envolvimento e condenou o ataque a bomba contra um posto policial em Mansoura, no Delta do Nilo, no início da semana. Além dos 16 mortos, mais de 100 egípcios ficaram feridos na explosão. O Ansar Bayt al-Maqdis, grupo jihadista que atua na Península do Sinai e é ligado à Al-Qaeda, reivindicou a autoria do atentado, mas o governo interino egípcio afirma que é a Irmandade quem está por trás da explosão.
Ao final de uma longa reunião de emergência do gabinete instalado pelos militares, o ministro da Educação, Hossam Eissa, leu em rede nacional um comunicado: "Declaramos a Irmandade Muçulmana e todas as suas organizações como grupos terroristas". A decisão, disse Eissa, é uma "resposta" ao atentado de segunda-feira.
"O Egito ficou horrorizado, de norte a sul, pelo crime hediondo cometido pela Irmandade Muçulmana. Isso ocorreu no contexto de uma perigosa escalada da violência contra o Egito e os egípcios. A Irmandade Muçulmana mostrou que não sabe agir a não ser por meio da violência", continuou o ministro. Eissa, entretanto, não mostrou provas que ligassem o grupo ao ataque em Mansoura.
Desde que derrubaram Morsi, no dia 3 de julho, os militares egípcios lançaram um duro cerco contra a Irmandade. Semanas após o golpe, centenas - ou, segundo algumas fontes, milhares - de integrantes da organização islamista foram mortos em um protesto no centro do Cairo, depois que policiais e soldados do Exército abriram fogo contra a multidão. Estima-se que a Irmandade, um híbrido de partido e instituição de caridade, tenha mais de um milhão de filiados no Egito.
Nesta quarta-feira, líderes do grupo garantiram que não cessarão as atividades, apesar do banimento oficial. "Essa decisão não tem valor para nós. Ela não vale nem sequer o papel em que foi escrita", disse Ibrahim Elsayed, do comando político do grupo.
De volta. Criada em 1928, a Irmandade foi banida em 1954, com a chegada dos militares ao poder no Cairo, e assim permaneceu até a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. Depois de um relativo silêncio no início dos protestos que levaram ao fim do regime Mubarak, a organização fundou seu próprio partido, o Liberdade e Justiça, e foi a grande vencedora das primeiras eleições livres do Egito, tanto para o Parlamento quanto para a presidência.
Com amplos poderes no Executivo e no Legislativo, porém, a organização começou a sofrer dura resistência. Ao aprovar uma Constituição inspirada na lei islâmica, em novembro, e tentar centralizar cada vez mais o poder, Morsi começou a enfrentar protestos de milhões de egípcios e acabou deposto./REUTERS E AP
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