PUBLICIDADE

Israel cede e aceita aliviar cerco a Gaza

Em meio a pressões após o ataque à Frota da Liberdade, governo israelense libera a entrada de alimentos e suprimentos básicos no território controlado pelo Hamas, além de material de construção, sob supervisão de organizações internacionais

Por Reuters
Atualização:

JERUSALÉMO governo israelense cedeu às pressões internacionais e decidiu reduzir significativamente o rigoroso bloqueio que vinha impondo à Faixa de Gaza nos últimos três anos. Israel levantou todas as restrições à entrada de alimentos e suprimentos básicos. A passagem de material de construção para projetos civis também foi autorizada, sob a condição de que organizações internacionais supervisionem o processo.O recuo israelense ocorre pouco mais de três semanas após a tragédia da Frota da Liberdade, que levou à morte de nove ativistas turcos. O assalto dos comandos da Marinha de Israel em águas internacionais causou comoção em todo mundo e fez crescer a pressão para que o governo do direitista Binyamin "Bibi" Netanyahu encerrasse o cerco.Mas Israel anunciou que o alívio será restrito às fronteiras terrestres do território palestino. Portanto, o bloqueio naval continuará. O governo afirma que, com a abertura dos portos de Gaza, o grupo islâmico Hamas, que governa o território, receberia grandes quantidades de armamento do Irã.Autoridades palestinas afirmaram que o alívio anunciado por Israel é insuficiente. Elas defendem a livre entrada de material de construção para restabelecer a infraestrutura arrasada na ofensiva israelense de janeiro de 2009, além da revogação do veto à exportação de bens produzidos no território.Israel decidiu levantar o cerco a Gaza depois de intensas consultas com os EUA e países europeus. Há uma semana, o presidente americano, Barack Obama, havia afirmado que o bloqueio era "insustentável". Washington comemorou discretamente o recuo de Netanyahu, cujas relações com Obama têm dado sinais de desgaste, sobretudo por causa da ocupação israelense em Jerusalém Oriental. "Os princípios anunciados refletem o tipo de mudança que temos discutido com nossos amigos israelenses", disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.O ex-premiê britânico Tony Blair, emissário para o Oriente Médio do Quarteto (formado por EUA, Rússia, União Europeia e ONU), disse que o sinal israelense "é um bom começo". Blair teria sido peça-chave na discreta ofensiva diplomática que conseguiu persuadir Bibi.Para entenderA entrada especificamente de cimento na Faixa de Gaza tem sido motivo de grande debate entre israelenses, palestinos e autoridades internacionais. Israel afirma que o material será usado pelo Hamas para construir instalações militares. Até o senador americano John McCain entrou na discussão, afirmando que "esse cimento não irá para escolas, mas para bunkers". Para a ONU e ONGs que atuam em Gaza, sem o material não é possível reverter o estrago provocado pela guerra de 2009. Agora, Israel aceitou liberar cimento para organizações internacionais, que garantirão que o produto será usado somente em construções civis. Indecisão. Ao aliviar o cerco a Gaza, Israel reconhece tacitamente o fracasso de sua política contra o território, adotada após o Hamas vencer as eleições. O estrangulamento de Gaza não foi capaz de enfraquecer o grupo radical e Israel tampouco conseguiu libertar o cabo Guilad Shalit, capturado em 2006.Reforçado em 2007, quando o Hamas expulsou, pelas armas, o rival Fatah de Gaza, o bloqueio teve um profundo impacto socioeconômico. Hoje, 65% do 1,5 milhão de habitantes do território depende de ajuda humanitária para sobreviver. Dezenas de milhares perderam o emprego por causa do cerco, que inviabilizou praticamente todas as atividades econômicas no território.O gabinete de Netanyahu havia se reunido duas vezes para discutir o fim do bloqueio, mas foi incapaz de chegar a uma posição de consenso. A decisão final teria sido do próprio Bibi.Após a reunião ministerial de ontem, foram divulgadas duas notas: uma em inglês e outra em hebraico. A primeira, detalhava o alívio a Gaza. A segunda, não mencionava o recuo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.