Israel desiste de retirada unilateral da Cisjordânia

Segundo primeiro-ministro israelense, é hora de retomar as negociações com os palestinos

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Por Agencia Estado
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O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, anunciou nesta segunda-feira a suspensão de um projeto de retirada unilateral da Cisjordânia, principal proposta do programa com o qual venceu as eleições gerais de março. Segundo o premier, a idéia de retirada unilateral deve ser substituída pela necessidade de reabrir as negociações com os palestinos. Olmert fez o anúncio diante do Comitê de Assuntos Exteriores e de Defesa do Parlamento, que está investigando a atuação e os possíveis erros judiciais do governo e do Exército na condução da guerra do Líbano. Israel não mantém contatos diretos com os palestinos desde que o grupo militante Hamas, que prega a destruição de Israel, conquistou a maioria dos assentos no parlamento palestino e passou a controlar o governo. A recente guerra entre Israel e o Hezbollah, no entanto, despertou novamente entre os políticos israelenses a necessidade de se retomar os contatos com os palestinos. "Nós não temos nenhum outro problema urgente além do dos palestinos", disse Olmert durante a reunião. Segundo uma porta-voz do governo, Israel não tem nenhuma precondição para realizar um encontro entre Olmert e o presidente palestino Mahmoud Abbas, do Fatah - grupo de oposição ao Hamas. Do lado palestino, interlocutores do presidente, também conhecido como Abu Mazen, disseram que Abbas está pronto para iniciar os contatos. "Se Olmert disser que não há condições para um encontro, ele sabe que Abu Mazen estará pronto para iniciar as negociações", informou um legislador palestino. A possibilidade de uma renovação nas negociações entre palestinos e israelenses vem à tona em meio uma polêmica sobre a libertação de um soldado israelense seqüestrado por militantes palestinos. Publicamente, Israel pede a libertação incondicional do cabo Gilad Shalit, embora sejam crescentes os boatos de que um acordo para a troca de prisioneiros entre palestinos e israelense vem sendo costurado. Plano inadequado Em seu discurso perante Comitê de Assuntos Exteriores e de Defesa do Parlamento, Olmert declarou que a retirada unilateral como concebida inicialmente "já não é adequada". A desistência do plano é conseqüência direta do recente conflito entre israelenses e os guerrilheiros libaneses do Hezbollah. Ainda no início dos enfrentamentos, Olmert defendeu o plano, chegando a afirmar que o conflito com o Hezbollah daria mais força ao projeto. Mas rapidamente começaram a surgir dúvidas dentro do partido governista Kadima sobre a retirada da Cisjordânia. "Após o último mês, ficou claro que o conceito de unilateralismo é inviável", declarou em meados de agosto o deputado do Kadima David Tal. Quatro dias depois da entrada em vigor do cessar-fogo no Líbano, em 14 de agosto, Olmert passou a reconhecer que a retirada da Cisjordânia já não era mais urgente. O chamado "Plano de Convergência" previa a evacuação de 70 mil colonos judeus das partes da Cisjordânia mais afastadas do território israelense. O objetivo final de Israel era a fixação unilateral de suas fronteiras com os palestinos. Nesta segunda, diante do Comitê de Exteriores e Defesa, Olmert declarou que a prioridade para Israel agora é a questão palestina, e que seria "necessário" restabelecer o diálogo. Paralelamente, no entanto, o governo anunciou a construção de 690 casas em dois assentamentos da Cisjordânia. A medida foi denunciada pelo movimento "Paz Agora", pois viola as promessas feitas aos Estados Unidos de interromper a construção nos territórios ocupados. A licitação prevê a construção de casas nos assentamento de Betar Ilit, ao oeste de Belém, e de Ma´aleh Adumim, ao nordeste de Jerusalém.

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