Israel e Hamas clamam vitória após cessar-fogo mediado pelo Egito

Para Israel, operação foi um 'sucesso'; Hamas ofuscou Fatah e Mahmoud Abbas ao travar acordo

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Por Guila Flint
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TEL-AVIV - Após o início do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que entrou em vigor na noite de quarta-feira, 21, ambos os lados afirmam ter alcançado seus objetivos nos confrontos, que duraram oito dias e deixaram mais de 160 mortos - cinco deles no lado israelense.   O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que decidiu aceitar a "recomendação" do presidente americano Barack Obama para um cessar-fogo depois que o país "alcançou" seus objetivos com a operação militar denominada Pilar de Defesa. De acordo com o governo israelense, os objetivos eram "restaurar a tranquilidade ao sul do país e recuperar o poder de dissuasão frente ao Hamas". O acordo, mediado pelo presidente egípcio, Mohammed Mursi, garante que os grupos palestinos irão parar de lançar foguetes contra o território israelense. Israel, por sua vez, se compromete a suspender os ataques à Faixa de Gaza e a possibilitar a abertura das passagens terrestres, tanto entre Israel e o território palestino, como a passagem entre Gaza e o Egito, em Rafah. O elemento principal no acordo, que havia sido rejeitado por Israel no inicio da negociação, mas acabou sendo incluido, consiste na vinculação do cessar-fogo com a abertura do bloqueio imposto à Faixa de Gaza. Após fortes pressões do governo americano, Netanyahu aceitou os termos do acordo e mandou suspender os planos de uma invasão terrestre à Faixa de Gaza. 'Fracasso e resistência' O líder do Hamas, Khaled Meshaal, declarou que "a ofensiva israelense fracassou". Em anúncio após o cessar-fogo, ele disse que "oito dias de combates obrigaram os lideres do inimigo a se render às nossas condições. A grande destruição que causaram não altera o fato de que a resistência venceu". Meshaal também disse que "a conclusão é que a opção da resistência é a vitoriosa". Há uma unanimidade de opinião entre analistas, tanto em Israel como nos territórios palestinos, de que o principal perdedor da última onda de violência é Mahmoud Abbas, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e da Autoridade Palestina (AP), assim como do Fatah, força política que governa a Cisjordânia. Considerado um movimento radical islâmico por Israel e pelos Estados Unidos, o Hamas passou a governar a Faixa de Gaza em 2007, e ao contrário do Fatah, não é reconhecido como um interlocutor para as conversas de paz. Abbas, que simboliza a estratégia de negociação com Israel e que lidera o movimento que apostou no processo de paz, ficou à margem dos acontecimentos, enquanto o grupo islâmico Hamas, que se opõe à existência de Israel, tornou-se o principal protagonista do lado palestino. Durante esses oito dias de confrontos, o Hamas ganhou legitimidade internacional, e Israel realizou negociações com o grupo, implicitamente o reconhecendo como governo na Faixa de Gaza. Sufian Abu Zeida, um dos líderes do Fatah, que foi obrigado a fugir da Faixa de Gaza em 2007, quando o Hamas tomou à força o poder na região, expressou indignação com a atitude de Israel em entrevista ao canal 10 da TV israelense. "Abu Mazen (Mahmoud Abbas) vocês humilham e ignoram, mas o Hamas, que nem reconhece a existência de Israel, vocês respeitam e com eles vocês negociam", afirmou. De acordo com a jornalista Amira Hass, em artigo no diário israelense Haaretz, o Hamas conseguiu "manobrar a Faixa de Gaza como uma entidade separada, que se abrirá para o mundo árabe e islâmico". "Como parte da Irmandade Muçulmana, o Hamas consegue devolver a questão palestina ao foco da atenção internacional e também atua como uma força regional cuja opinião e capacidade deve ser levada em consideração", afirma Hass.   BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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