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Israel e palestinos ignoram visita do enviado de Obama e rompem trégua

Bombardeios a túneis em Gaza e ataque de foguete Kassam em Israel dificultam missão de americano de manter cessar-fogo

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Israel voltou a bombardear ontem o sul da Faixa de Gaza, causando constrangimento ao enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, George Mitchell, que se reuniu com autoridades israelenses para tentar negociar a prorrogação do frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas, decretado há dez dias. Horas após a ofensiva, um foguete Kassam - o primeiro nos 11 dias de trégua - atingiu Israel, sem deixar feridos, provocando novo bombardeio israelense. Há dois dias, a aviação de Israel bombardeia esporadicamente Gaza depois do ataque de um grupo desconhecido ter matado um soldado. Até agora, dois palestinos morreram. O ministro da Defesa, Ehud Barak, que disputa o cargo de premiê em eleições do dia 10, cancelou viagem para Washington por causa da deterioração da segurança em Gaza. O premiê Ehud Olmert já deixou claro que a ação que matou o militar israelense terá uma resposta ainda maior do que a que ocorreu nos últimos dois dias. Os alvos dos ataques de Israel de ontem foram túneis usados pelo Hamas para traficar armamento e mercadorias do Egito para o território palestino em Rafah. A construção de dezenas de passagens foram intensificadas desde o fim das três semanas de conflito que deixou 1.300 palestinos e 13 israelenses mortos. A ofensiva israelense foi lançada em resposta ao disparo de foguetes do Hamas contra cidades do sul de Israel. No conflito, os israelenses danificaram a estrutura do grupo palestino, mas não conseguiram tirá-lo do poder. A organização, vencedora de eleições parlamentares de janeiro de 2006, expulsou o Fatah do território em 2007. O Hamas argumenta que o bloqueio israelense está agravando a crise humana na Faixa de Gaza. Israel controla o espaço aéreo e marítimo do território palestino. Além disso, ao fechar as suas fronteiras, impede que produtos de Gaza cheguem à Cisjordânia e vice-versa, dificultando ainda a entrada de ajuda humanitária . O Egito também mantém sua divisa fechada para a passagem de palestinos. Israel e o Hamas vêm impondo condições para definir como será o status quo na fronteira do território com o Egito. A principal demanda israelense é a inclusão de tropas estrangeiras na passagem de Rafah. O governo de Israel também exige a libertação do militar Guilad Shalit para levantar o bloqueio ao território (leia quadro). Mitchell afirmou no encontro com Olmert que o cessar-fogo deveria ser mantido, com o fim do contrabando de armas e do bloqueio ao território palestino. "Os EUA estão comprometidos em perseguir uma paz duradoura que traga estabilidade à região", disse Mitchell, que tem evitado comentar sua missão antes de entregar um relatório ao presidente Barack Obama. Hoje, o homem que representa Obama nas negociações entre israelenses e palestinos se reúne com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Integrante do Fatah, o líder palestino é rival do Hamas e não tem nenhuma autoridade em Gaza. O enviado americano não se reunirá com o Hamas até que a organização reconheça Israel e aceite os acordos de paz firmados. O grupo argumenta que os israelenses desrespeitam os mesmos acordos, pois continuam construindo ilegalmente assentamentos na Cisjordânia. O grupo pacifista Paz Agora confirma o que o Hamas diz. Em relatório divulgado ontem, a organização israelense afirma que 1.257 estruturas foram construídas na Cisjordânia em 2008, um crescimento de 57% em relação a 2007. Estes assentamentos são considerados ilegais pela ONU e Israel havia se comprometido a pelo menos congelar a expansão deles. Nenhum assentamento foi desmantelado desde a assinatura dos Acordos de Oslo no início dos anos 90. Israel retirou 7 mil colonos da Faixa de Gaza, mas este número equivale a 2% do total da Cisjordânia.

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