Israel expande seu controle sobre a Cisjordânia

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Por Agencia Estado
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Forças israelenses assumiram hoje o controle da sétima das oito maiores cidades da Cisjordânia, depois que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, apresentou sua visão de paz para o Oriente Médio, amplamente interpretada como um sinal de aprovação americano para a ofensiva militar que até agora confinou às suas casas pelo menos 700 mil palestinos. Uma coluna de fumaça foi vista hoje sobre Hebron depois que o Exército de Israel explodiu um prédio dentro do complexo municipal. Forças israelenses e a polícia palestina em seu interior trocaram pesados tiroteios durante todo o dia e quatro policiais palestinos foram mortos. O Exército informou apenas que houve troca de tiros no complexo. O líder Yasser Arafat parecia hoje o único palestino otimista com o discurso de Bush, ao dizer que o presidente americano com certeza não se referia a ele quando pediu, na segunda-feira, para os palestinos elegerem um novo líder que não esteja "comprometido com o terrorismo". Falando a repórteres em seu quartel-general em Ramallah, Arafat disse que não era correto concluir que Bush o criticou em seu discurso. Segundo ele, o presidente americano falou sobre um Estado palestino e eleições. Adesão Por meses, Israel tem acusado Arafat de estar diretamente vinculado a ataques terroristas, e os EUA - que vinham dizendo apenas que Arafat poderia fazer mais para parar os ataques - praticamente adotaram a posição israelense ao se concentrarem na necessidade de uma nova liderança. Internacionalmente, o discurso de Bush foi recebido com elogios, mas não houve endosso por parte da União Européia, Nações Unidas e Rússia a seu pedido por uma mudança de liderança. Notavelmente, a Grã-Bretanha, aliado próximo dos EUA, também não endossou o pedido de afastamento de Arafat. Jack Straw, secretário do Exterior britânico, disse que se Arafat for reeleito, a Grã-Bretanha continuará trabalhando com ele. O primeiro-ministro Tony Blair, segundo a agência de notícias britânica Press Association, afirmou hoje que os palestinos podem eleger quem quer que queiram, mas era importante que eles tenham líderes "preparados para fazer um acordo". O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também disse que cabe aos palestinos escolherem seus líderes. Ao invés de endossar o pedido de mudança de liderança, o chefe da política externa da UE, Javier Solana, preferiu oferecer a assistência européia para os palestinos organizarem eleições. Reforma Um assessor de Arafat, Saeb Erekat, afirmou que os palestinos anunciarão nesta quarta-feira planos de reforma e datas para eleições municipais, legislativas e presidenciais. Os grupos extremistas Hamas e Jihad Islâmica, que têm promovido ataques suicidas a bomba contra israelenses, consideraram que o discurso de Bush apenas encorajará o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, a continuar com sua ofensiva militar que já dura uma semana - um entendimento compartilhado por muitos israelenses. "Acho que Sharon entendeu que tem praticamente carta branca para permanecer nas áreas A", opinou o analista diplomático israelense Keren Neubach, referindo-se às áreas administradas pelos palestinos. Erekat evitou responder se Bush havia efetivamente endossado a operação militar, mas afirmou: "o objetivo final de Sharon desde que assumiu o poder tem sido o de persistir na ocupação." Ocupação Israel voltou a ocupar áreas palestinas na Cisjordânia quando atacantes suicidas promoveram uma série de atentados a bomba que mataram 26 israelenses. Forças de Israel têm encontrado pouca resistência - apenas um mês atrás, haviam concluído um campanha militar de seis semanas na Cisjordânia, na qual prenderam ou mataram muitos militantes palestinos. A única grande cidade da Cisjordânia livre das tropas israelenses é Jericó, isolada no Vale do Jordão. Tanques israelenses cercaram o quartel-general de Arafat em Ramallah. O Exército de Israel tem impedido que jornalistas entrem nas cidades que ocupou. O capitão Kobi Veller, 25 anos, comandante da companhia ocupando a região do campo de refugiados de Balata, disse que foram efetuadas detenções, mas não em massa, depois que o Exército cercou e entrou em Nablus, para "evitar que terroristas escapassem". Veller afirmou que forças israelenses encontraram alguma resistência na área, e fizeram disparos de advertência contra violadores do toque de recolher. Palestinos também plantaram explosivos nas estradas, disse ele, e jogaram pedras e coquetéis molotov contra veículos blindados. Em Hebron, tropas israelenses cercaram hoje um complexo no alto de uma colina que abriga instalações da polícia palestina, trocando tiros com pessoas em seu interior, para depois entrarem e promoverem buscas de sala em sala, informaram palestinos. Do lado de fora, soldados usaram alto-falantes para exigir que todos os palestinos no local se rendessem com as mãos para o alto. O chefe de segurança palestino, Nizam Jaabri, e cerca de 200 policiais foram presos. Um comunicado do Exército de Israel afirmou que "um grande número de suspeitos" foram presos em Hebron e um laboratório de explosivos foi detonado. Quando Israel entregou a maior parte de Hebron aos palestinos, em 1997, estes transformaram o complexo no alto da colina, usado por anos pelas forças britânicas, jordanianas e israelenses, em escritórios do governador regional e forças de segurança. O acordo de 1997 deixou Israel no controle de 20% da cidade, guardando colonos judeus no Centro. Alegria Entre os israelenses, o discurso de Bush foi no geral visto como um sinal de que os Estados Unidos finalmente entenderam o que Israel tem passado com ataques terroristas. Mas, oficialmente, foram feitos esforços para que não transparecesse a alegria. Numa reunião de um comitê parlamentar, hoje, que contou com a presença de Sharon, o brigadeiro-general Yossi Kupperwasser, chefe de pesquisa dos corpos de inteligência, disse que o discurso de Bush foi "um balde de água fria para os árabes", relatou um participante que pediu para não ser identificado. Sharon teria respondido: "Você não deveria falar desse jeito. Não apresente o discurso como algo ruim para o mundo árabe", e acrescentou que "para aqueles que querem a paz com os árabes, foi um discurso muito bom". A Jihad Islâmica e o Hamas prometeram hoje continuar com os ataques contra os israelenses. "Essa arrogância americana não irá nos amedrontar", afirmou a Jihad num comunicado divulgado em Beirute, Líbano. Integrantes do Hamas em Nablus identificaram um homem morto na segunda-feira, após sair de um táxi disparando contra soldados israelenses, como sendo o líder local, Said al-Aqraa, de 27 anos. O Hamas informou que al-Aqraa passou cinco anos numa prisão palestina e foi libertado em outubro de 2000. Também hoje, soldados israelenses mataram a tiros um palestino que lançava granadas no ponto de cruzamento de Karni, entre Israel e Gaza. A Jihad Islâmica assumiu responsabilidade pelo ataque.

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