Israel foi responsável por explosão em Gaza, diz especialista

Ex-perito militar americano analisou o local da explosão, em uma praia em Gaza, e afirma que a destruição foi causada por um tipo de granada israelense

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um especialista militar americano refutou nesta quarta-feira a afirmação do exército israelense de que não teve culpa pela explosão que matou oito palestinos em uma praia na Faixa de Gaza, na sexta-feira. O incidente gerou críticas sobre as práticas militares de Israel. O resultado do inquérito realizado por Israel determinou que a explosão não foi causada por uma granada disparada por sua artilharia. No entanto, o especialista, Marc Garlasco, da organização Human Rights Watch (HRW) analisou os danos, as metralhas (resíduos da explosão) e os feridos e chegou a uma conclusão diferente. "Estou convencido de que foi um tipo de granada israelense", disse Garlasco no sábado durante uma entrevista por telefone. Segundo ele, as principais questões são de onde o projétil veio e quando. Segundo afirmam os palestinos, a granada foi disparada pela artilharia israelense, e não enterrada de propósito por militares, como alega Israel. Garlasco foi o primeiro especialista independente a examinar o local do ataque, ainda que Israel tenha dúvidas sobre suas conclusões e sobre seu grupo de direitos humanos. Ele estava em Gaza realizando pesquisas para a HRW no momento da explosão, na sexta-feira. O americano é um ex-especialista em avaliação de danos de batalha para o Pentágono, tendo estudado os conflitos na Bósnia e no Iraque. Garlasco concluiu que a explosão foi causada por uma granada de 155 mm, do tipo que Israel usa em suas operações. Ele analisou as metralhas coletadas no local por uma unidade palestina e exames de raio-X dos feridos. De acordo com o especialista americano, a metralha - pedaços de ferro de projéteis - era espessa, típica de explosivos militares, e não fina como os pedaços de metal de foguetes caseiros palestinos. Contudo, Garlasco sustenta que a melhor evidência foi a metralha que ele mesmo recolheu do estofados de um carro, estacionado no local, onde duas crianças feridas ficaram por alguns instantes. Segundo ele, os resíduos comprovam que se trata de uma granada israelense. Ele aponta ainda para o fato de que os ferimentos não incluíam a perda de pernas, como ocorre no caso da explosão de uma mina terrestre. Garlasco já havia irritado o governo israelense com um relatório altamente crítico da HRW sobre a destruição de casas no campo de refugiados em Rafah, em 2004. Funcionários do governo de Israel consideram que a ONG de Garlasco favorece os palestinos. Reação israelense O analista israelense, Gerald Steinberg, chefe do grupo Monitor não-governamental, acusa o americano de não ter credibilidade. Segundo Steinberg, os funcionários do grupo Human Rights Watch "tem um longo e documentado histórico de explorar os direitos humanos para promover um viés político e ideológico anti israelense" O porta-voz do exército de Israel, capitão Jacob Dallal, disse na quarta-feira que os ferimentos não foram causados por "disparos israelenses e que poderia determinar isso com um grau excepcionalmente alto de certeza". Dallal, no entanto, disse que Israel não pôde determinar com certeza a causa das mortes. Na terça-feira, o ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, apresentou os resultados do inquérito de Israel, usando fotos e filmagens que mostram que nenhuma granada foi disparada por terra ou mar no momento da explosão. Dallal alega que a praia era usada por militantes, portanto "também seria um campo de batalha". Segundo ele, a aérea é usada para o lançamento de foguetes contra Israel, salientando que um foguete foi lançado na quarta-feira. Garlasco afirma que serão necessárias mais análises antes que uma conclusão seja traçada. "Pedimos uma investigação independente, já que os israelenses não estão dispostos a investigar e os palestinos são incapazes de fazê-lo tecnologicamente", afirmou. "A organização Human Rights Watch espera apresentar suas descobertas a Israel em uma reunião na semana que vem", concluiu.

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