Israel inicia operação para expulsar estrangeiros ilegais do país

Filhos de estrangeiros nascidos no país também serão deportados; medida causa polêmica.

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Por Guila Flint
Atualização:

O Ministério do Interior israelense iniciou uma operação para localizar, prender e deportar mais de 100 mil trabalhadores estrangeiros que não têm a documentação necessária para permanecer no país. Organizações de defesa dos direitos humanos criticam a forma "indiscriminada" como os estrangeiros estão sendo expulsos e pedem que as autoridades examinem cada caso individualmente. Ran Hacohen, diretor do Departamento de Trabalhadores Estrangeiros e Refugiados da ONG Médicos pelos Direitos Humanos, classifica a operação do Ministério do Interior israelense como uma "caça a seres humanos". "Os fiscais do Departamento de Imigração aparecem de repente nos bairros pobres da cidade (Tel Aviv), onde se concentram os trabalhadores estrangeiros, e todos aqueles que não têm documentos são levados imediatamente para a prisão e deportados dois dias depois", disse Hacohen à BBC Brasil. O governo israelense, no entanto, afirma que a operação de deportação de estrangeiros ilegais está sendo feita de "maneira humana". "A decisão do governo é de afastar o maior número possível de ilegais, mas pretendemos fazê-lo de uma maneira humana e até ajudamos a pagar as passagens para que eles possam voltar a seus países", afirmou à BBC Brasil a porta-voz do Ministério do Interior, Sabin Hadad. Segundo dados da ONG Médicos pelos Direitos Humanos, a grande maioria dos trabalhadores estrangeiros chegou ao país de maneira legal – muitos trazidos por empresas de recursos humanos -, porém seus vistos expiraram ou foram cancelados. A maior parte é oriunda de China, Tailândia e Filipinas. Crianças Segundo Ran Hacohen, muitos destes estrangeiros ilegais estão em Israel há anos e alguns, inclusive, tiveram filhos no país. Estas crianças, no entanto, não são cidadãs israelenses, já que, pela legislação do país, o simples nascimento em Israel não confere o direito à cidadania. Desta forma, estas crianças, mesmo as nascidas em Israel, também devem ser deportadas junto com seus pais. "Há cerca de 1,5 mil crianças que nasceram aqui, falam hebraico e não conhecem nenhum outro país", afirma Hacohen. "Pelo menos em relação a essas famílias, o governo israelense deveria adotar uma atitude mais humana e dar-lhes a cidadania", diz. Famílias Durante os anos de 2002 e 2003, o governo israelense realizou uma operação semelhante, que resultou na expulsão de 100 mil estrangeiros ilegais do país. Naquela época, no entanto, as autoridades decidiram não expulsar crianças nascidas em Israel e permitiram que pelo menos um dos pais ficasse com o filho no país. Segundo a porta-voz do Ministério do Interior, Sabin Hadad, no entanto, "agora o governo decidiu que é melhor não separar as famílias". De acordo com a porta-voz, a possibilidade de cidadania para as famílias cujos filhos nasceram em Israel também "está fora de cogitação". "Quando os ilegais têm assuntos pendentes para resolver, o Departamento de Imigração lhes dá um prazo de 14 dias para deixarem o país", disse Hadad. "O afastamento de famílias com crianças vai começar só no dia 1º de agosto. Por enquanto, nossos funcionários estão distribuindo panfletos nos bairros onde moram os ilegais e avisando que eles deverão deixar o país", afirmou. "Se não saírem até o início de agosto, teremos que adotar medidas contra essas famílias". A operação começou no dia 1º de julho e, segundo a porta-voz, "por enquanto não inclui crianças, idosos e doentes". "O afastamento desses setores mais sensíveis vai começar só em agosto, para que eles tenham tempo de se organizar. Por enquanto, os afastados são só jovens e solteiros". Trabalhadores estrangeiros Enquanto a política de expulsão dos ilegais é implementada, o governo israelense continua autorizando a entrada de cerca de 20 mil novos trabalhadores estrangeiros por ano. As ONGs de defesa dos direitos humanos defendem que, no lugar de permitir a entrada de novos trabalhadores estrangeiros, o governo israelense deveria regularizar a situação daqueles que já se encontram no país. Na opinião de Ran Hacohen, o governo israelense "não quer que essas pessoas criem raízes aqui (Israel) e prefere trocá-las". Hacohen também afirma que há "grandes interesses econômicos por trás da indústria de importação de trabalhadores estrangeiros, que pressionam o governo a continuar trazendo novos trabalhadores de fora". A comissão parlamentar pelos direitos da criança protestou contra a prisão e expulsão dos filhos de trabalhadores estrangeiros que nasceram em Israel. "Essas crianças nasceram aqui, estudam aqui, falam hebraico, para mim elas são israelenses", afirmou o deputado Nitzan Horowitz, do partido social-democrata Meretz. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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