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Israel intensifica operação em Gaza e detém ministros do Hamas

Em represália à captura de um seus soldados, tropas israelenses ampliaram ações em Gaza e capturaram um ministro palestino na Cisjordânia

Por Agencia Estado
Atualização:

Soldados do Exército de Israel prenderam na madrugada desta quinta-feira (horário local) ministros e legisladores do Hamas, aumentando a pressão para que militantes islâmicos libertem o soldado israelense seqüestrado no ultimo domingo. A ação israelense iniciou o segundo dia de tensões nos territórios palestinos após o seqüestro de um soldado israelense no último domingo. Ao longo de toda a quarta-feira, ataques aéreos e explosões abalaram Gaza, enquanto tropas e tanques invadiram a empobrecida faixa costeira ampliando a ofensiva para pressionar os militantes palestinos a liberarem o cabo Gilad Shalit. Membros do Hamas afirmam que mais de 30 deputados foram presos na Cisjordânia além do vice-primeiro-ministro, Nasser Shaer, que havia pedido a libertação do soldado israelense seqüestrado. Segundo as forças de segurança palestinas, outros três ministros foram capturados juntamente com Shaer. Quatro outros legisladores foram presos em Ramallah e Jenin. O prefeito da cidade de Qalqiliya e seu vice também foram detidos. Paralelamente, aviões israelenses sobrevoaram a residência do presidente sírio Bashar Assad numa tentativa de alertar o país que abriga o líder político do Hamas - segundo a interligência israelense, o principal responsável pela ação que resultou no seqüestro de Shalit. Também na quarta-feira, os militantes palestinos anunciaram terem seqüestrado outros dois israelenses: o colono judeu morador da Cisjordânia Eliahu Asheri, de 18 anos, e um israelense de 62 anos da cidade de Rishon Lezion. A mãe de Asheri confirmou o desaparecimento do jovem, e a polícia informou estar procurando um senhor desaparecido que se encaixa na descrição do outro homem. A ofensiva Segundo testemunhas palestinas, um pesado bombardeio atingiu as proximidades do aeroporto de Gaza e mísseis israelenses destruíram dois campos de treinamento do Hamas e o prédio de uma fábrica de foguetes. Aviões da Força Aérea israelense fizeram rasantes sobre a região, destruindo as janelas das casas com bombas sonoras. Tropas em território israelense deram cobertura ao ataque, lançando fogo de artilharia contra a Faixa de Gaza. Apesar da amplitude da incursão, até o momento não há informações sobre casualidades. Normalmente agitada, a região foi rapidamente esvaziada. Dezenas de moradores das regiões próximas ao aeroporto de Gaza, que foi tomado pelas tropas israelense, fugiram para a vizinha Rafah. Embora não tenham sido registrados movimentos de tropas na parte norte da Faixa de Gaza, o Exército Israelense distribuiu panfletos na região pedindo que os moradores evitem transitar pela região devido as atividades militares. Três portões foram abertos na cerca que divide o território de Israel, e helicópteros israelenses sobrevoaram a região. Diante da ofensiva israelense, dezenas de militantes palestinos armados com rifles e lançadores de granadas tomaram posição preparando-se para um possível ataque. O resto da população, por sua vez, concentrou-se em estocar suprimentos básicos para enfrentar dias sem eletricidade, o que levantou temores de um agravamento da crise humanitária que atinge a região. Ansiosos, os palestinos ponderam se a incursão, a primeira de larga escala desde a retirada de Gaza no ano passado, é realmente uma ação de "choque e pavor" para intimidar os militantes ou o prelúdio de uma nova invasão ao território. Embora tenha ameaçado com uma ação mais dura, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse que não pretende reocupar a faixa. Início da ofensiva A ofensiva israelense acontece depois de esgotados os esforços diplomáticos para libertar Shalit, um soldado de 19 anos capturado por milícias próximas ao Hamas. Os grupos condicionaram a liberação do soldado à soltura de centenas de palestinos presos por Israel. O Estado Judeu, no entanto, recusa-se a negociar com os militantes. Em represália à investida palestina, as Forças Armadas israelenses iniciaram no início da madrugada desta quarta-feira uma ofensiva militar cujo objetivo seria pressionar os militantes a libertar Shalid. As primeiras ações incluíram o corte da eletricidade e da distribuição de água para a maior parte dos 1,3 milhões de residentes do território palestino. Além disso, três pontes foram destruídas por aviões israelenses, dividindo Gaza em dois. O objetivo dos ataques às pontes era impedir que os terroristas transferissem o soldado capturado de uma parte de Gaza para outra ou para fora do território, no vizinho Egito. Além disso, ainda na terça-feira, o território palestino foi invadido por cerca de 8 mil soldados apoiados por tanques. A artilharia israelense disparou contra o campo de refugiados de Jabaliya e o aeroporto de Gaza foi tomado pela infantaria de Israel. Ainda não há estimativas sobre vítimas dos ataques. Esforços diplomáticos No Cairo, um alto funcionário do Egito disse que seu governo está tentando mediar a soltura do soldado israelense "antes que Gaza seja destruída". Segundo esse funcionário, representantes egípcios estão negociando diretamente com Khaled Mashaal, líder do grupo nacionalista Hamas exilado na Síria. Na noite de terça-feira, o ministro da Justiça de Israel, Haim Ramon, havia informado que o governo israelense tentaria assassinar Mashaal por acreditar que ele esteja por trás do seqüestro do soldado. Em Beirute, o representante do Hamas no Líbano, que é muito próximo a Mashaal, negou que ele tenha tido qualquer participação no seqüestro. O início da ofensiva militar israelense contra Gaza aconteceu poucas horas depois de os dois principais agrupamentos políticos palestinos, o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, e o Hamas, do primeiro-ministro Ismail Haniye, terem chegado a um acordo histórico em torno de um documento em que reconhecem implicitamente o Estado de Israel. Segundo um editorial do jornal Arab News, de Riad (Arábia Saudita), "o reconhecimento implícito de Israel pelo Hamas é um passo histórico. Infelizmente, o momento dessa mudança profunda não poderia ser pior. Os linhas-duras dos dois lados só podem estar contentes com esse novo confronto, que uma vez mais ameaça roubar do processo político o pouco impulso que lhe resta". Para Abbas, o presidente palestino, a ofensiva militar de Israel contra Gaza é "um crime contra a humanidade". Abbas está em Gaza e Israel anunciou que não permitirá sua saída do território, ecoando o bloqueio contra seu antecessor, Yasser Arafat, que foi mantido isolado por tropas israelenses em Ramallah, na Cisjordânia, por dois anos. A deputada palestina Hanan Ashrawi, acusou Israel de "usar a questão do soldado seqüestrado como pretexto. Israel está agindo conforme um plano específico". Ela fez essa declaração depois de reunir-se com o ministro libanês das Relações Exteriores, Fawzi Salloukh, que criticou o "silêncio suspeito" da comunidade internacional e exortou o Conselho de Segurança da ONU a "tomar uma posição firme para dar fim à agressão contra o povo palestino". Apoio americano O governo americano, por sua vez, recusou-se condenar Israel por suas ações na Faixa de Gaza. Em vez disso, o secretário de Imprensa da Casa Branca, Tony Snow, pediu ao grupo islâmico Hamas que garanta a libertação do soldado e recomendou a Israel que não machuque civis inocentes durante sua ofensiva e "evite a destruição desnecessária de propriedade e infra-estrutura" em sua tentativa de resgatar o militar capturado. "A captura e os ataques do Hamas no fim de semana precipitaram os atuais acontecimento em Gaza", disse Snow. "Israel tem o direito de se defender e de defender a vida de seus cidadãos. Devemos destacar uma vez mais que as forças israelenses tentam resgatar alguém que foi seqüestrado e que é mantido refém em Gaza. E elas estão fazendo o que podem para conseguir isso", insistiu. Snow disse que não emitiria comentários sobre nenhuma das ações militares desencadeadas por Israel. "Não emitirei julgamento sobre nenhum detalhe operacional do que acontece lá", esquivou-se.

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