Israel levanta cerco a Arafat, mas mata 23 palestinos

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Por Agencia Estado
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Israel levantou nesta segunda-feira um cerco imposto ao presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, durante os últimos três meses na cidade cisjordaniana de Ramallah, mas também expandiu sua ofensiva militar com ataques amplos e operações nas quais mais de mil homens palestinos foram detidos para interrogatório. 23 palestinos foram mortos pelo fogo israelense, 13 dos quais em um tiroteio num campo de refugiados na Faixa de Gaza. Duros confrontos ocorreram na noite de hoje depois que militantes palestinos dispararam morteiros contra um assentamento judaico na Faixa de Gaza. Segundo o Exército de Israel, o ataque de morteiros não deixou nenhuma vítima. Porém, logo em seguida, 20 tanques israelenses apoiados por helicópteros entraram no norte de Gaza e trocaram tiros com pistoleiros palestinos nos arredores do campo de refugiados de Jebaliya, contaram testemunhas. Treze palestinos morreram e mais de 50 ficaram feridos, disseram médicos de dois hospitais palestinos. Alguns dos mortos palestinos pertenciam a forças de segurança, revelaram fontes palestinas. Com os Estados Unidos à frente de um novo esforço internacional para reduzir a tensão no Oriente Médio, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, determinou que Arafat pode agora transitar pelos territórios palestinos, apesar de ele ainda necessitar de autorização israelense para viajar ao exterior. Ao mesmo tempo, o Exército de Israel realizou operações de busca na cidade palestina de Qalqilya e em um campo de refugiados em Belém, algemando e vedando homens palestinos enquanto procuravam militantes suspeitos de orquestrarem novos ataques contra Israel. Os palestinos qualificaram as recentes concessões de Sharon como "cosméticas", com o objetivo único de reduzir as críticas externas contra as duras ações militares israelenses. "Não há nenhuma boa intenção por trás desta decisão", disse o ministro palestino da Informação, Yasser Abed Rabbo, após o anúncio da decisão sobre Arafat. "O que precisamos do governo israelense é que páre imediatamente com seus crimes e massacres." O cerco sobre Arafat, que na prática representou sua prisão domiciliar, foi desfeito após forças de segurança palestinas terem cumprido uma exigência imposta por Israel: a prisão de cinco suspeitos pelo assassinato, em outubro, do então ministro de Turismo de Israel, Rehavam Zeevi. Como no passado, Arafat terá de obter aprovação israelense para viajar para fora da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Antes, tal permissão era costumeiramente concedida a Arafat. Mas agora ela não será mais automática, garantiu Raanan Gissin, porta-voz de Sharon. "Dependerá muito da situação no momento. Se houver derramamento de sangue por todos os lados, isto fará diferença" disse ele. Um grande teste ocorrerá no fim deste mês. Arafat quer participar da cúpula árabe em Beirute, Líbano. A reunião, prevista para ocorrer entre os dias 26 e 28 de março, terá o conflito no Oriente Médio como assunto dominante na agenda. A Arábia Saudita tem planos para apresentar uma proposta segundo a qual os países árabes ficariam em paz com Israel em troca da retirada de todos os territórios árabes capturados pelo Estado judeu durante a Guerra dos Seis Dias, travada em 1967. Arafat passou toda esta segunda-feira dentro de seu gabinete em Ramallah. Fontes palestinas disseram que ele ainda não sabe quando se aventurará a sair do prédio. Ele recebeu Ron Schlicher cônsul-geral dos Estados Unidos em Jerusalém, e conversou por telefone com o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, contaram assessores do líder palestino. Arafat pediu aos EUA que pressionem Israel a interromper sua ofensiva militar, disse Nabil Abu Rdeneh, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina. Quando começar a transitar pelos territórios palestinos, Arafat terá de procurar por novos espaços para trabalhar. Helicópteros israelenses destruíram seu gabinete na Cidade de Gaza no domingo, em retaliação a um atentado suicida perpetrado em Jerusalém. Os israelenses também puseram abaixo os gabinetes de Arafat nas cidades de Nablus e Jenin, ambas na Cisjordânia. Durante a prolongada estada de Arafat em Ramallah, onde ele era obrigado a trabalhar e dormir, os tanques israelenses passaram semanas estacionados em ruas próximas. Muitos prédios da região foram atingidos por mísseis israelenses, apesar de nenhum ter acertado em cheio o local onde fica o gabinete de Arafat. Sharon amenizou algumas posições devido à iminente chegada do enviado norte-americano Anthony Zinni à região para tentar acabar com o conflito, que já dura quase um ano e meio. Hoje, o Departamento de Estado dos EUA confirmou para quinta-feira a chegada de Zinni ao Oriente Médio. Mais de 130 palestinos e 50 israelenses foram mortos nos primeiros 11 dias de março, o período mais sangrento desde o início da violência, em 28 de setembro de 2000, quando o hoje primeiro-ministro Ariel Sharon visitou a Esplanada das Mesquitas uma área de Jerusalém sagrada para judeus e muçulmanos. Sharon disse que não mais insiste em que haja uma semana de calma absoluta antes de seguir em frente com um plano de trégua norte-americano. Hoje, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, reuniu-se com o negociador palestino Ahmed Qureia. Apesar disso, não há nenhuma notícia referente a avanços. Na Cisjordânia, Israel ampliou sua ofensiva contra os palestinos poucas horas depois de pistoleiros palestinos terem disparado contra um salão de festas durante uma celebração de bar mitzvah na cidade portuária israelense de Ashdod. O fuzil M-16 do militante falhou e ele foi detido depois de ferir um menino de 13 anos. Antes do amanhecer, soldados israelenses e veículos blindados invadiram Qalqilya e o campo de refugiados de Dheisheh, em Belém. Os soldados anunciaram que todos os homens de Dheisheh entre 15 e 45 anos deveriam render-se às forças israelenses. Cerca de 500 pessoas foram detidas, despidas até ficarem apenas com as roupas de baixo, algemadas e vendadas, informaram o Exército e testemunhas do incidente. Na semana passada, em Tulkarem, alguns detidos disseram que os soldados israelenses escreveram números de três dígitos nos braços e na testa dos prisioneiros. Um fotógrafo capturou em imagem o momento no qual um detido era libertado. No braço do ex-prisioneiro havia um grande número escrito. O porta-voz do Exército, tenente Olivier Rafowicz, disse que os soldados escreveram os números para identificar os detidos e manter controle sobre eles. Rafowicz disse que os números poderiam ser "facilmente lavados". Por sua vez, Arafat comparou a ação israelense com o tratamento dado aos judeus pelos soldados nazistas nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, quando números eram tatuados no braço dos prisioneiros como forma de identificação. "Você não viu eles escrevendo números nas pessoas detidas no campo de refugiados de Tulkarem?", perguntou Arafat em entrevista à Abu Dhabi TV. "Não é este o tipo de argumento que eles usam para representar o que os nazistas fizeram contra os judeus? Então o que dirão eles sobre essas coisas? Não seria esta uma nova forma de racismo nazista?" Rafowicz rejeita a acusação de Arafat. Segundo ele, os comentários têm o objetivo de "fazer uma provocação para novos ataques e devemos deixar a história e a comunidade internacional julgarem a gravidade desses comentários e a pessoa que os fez". Ainda hoje, soldados e moradores de Qalqilya contaram que cerca de 600 homens ficaram detidos no pátio de uma escola local. Também em Qalqilya, helicópteros israelenses dispararam mísseis contra diversas estruturas de segurança e contra um diretório da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), facção que assumiu a responsabilidade pela morte de Zeevi, disse Mustafa Malki, governador de Qalqilya. Ao todo, soldados israelenses assassinaram cinco palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia antes dos início dos tiroteios na noite de hoje no campo de refugiados de Jebaliya. Israel promoveu ataques contra diversos campos de refugiados e cidades nos últimos dias e diz ter prendido militantes, apreendido armas e descoberto laboratórios voltados para a fabricação de bombas. Os palestinos ressaltam que as ações israelenses causaram um grande número de mortes entre civis e só servem para piorar a já tensa atmosfera na região. "Nós conduzimos nossas operações a partir do momento em que recebemos informações de militantes suicidas, células terroristas, cargas explosivas ou veículos com explosivos", alega o ministro da Defesa de Israel, Binyamin Ben-Eliezer. "Nosso objetivo é evitar que os ataques ocorram."

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