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Israel libera embargo em caso de jornalista acusada de espionagem

Após quatro meses, jornais podem falar sobre caso de vazamento de documentos militares.

Por Guila Flint
Atualização:

A Justiça de Israel suspendeu nesta quinta-feira uma liminar que proibia a publicação pela imprensa israelense de informações sobre o caso de uma jornalista acusada de roubar e expor documentos militares secretos. A proibição, imposta há quatro meses, foi suspensa após semanas de intensa pressão de órgãos da imprensa do país, que acusavam o governo de censura. A jornalista Anat Kam, de 23 anos, foi acusada pelo serviço de inteligência interna de Israel, o Shin Bet, de ter roubado, durante seu serviço militar, mais de 2 mil documentos secretos das Forças Armadas de Israel. Os documentos, segundo especialistas, teriam informações sobre como militares israelenses violaram regras sobre assassinato de militantes. Kam - que trabalhou como jornalista para o site de notícias Walla - foi acusada de "espionagem grave", e relatos da imprensa israelense afirmam que ela teria ficado sob prisão domiciliar por quatro meses. A proibição de divulgação do episódio despertou críticas da imprensa e de juristas locais, que acusaram as autoridades de ferir a liberdade de expressão e o direito do público israelense de receber informação, especialmente devido ao fato de que as informações estavam sendo divulgadas no exterior. O jornal de maior tiragem de Israel, Yediot Ahronot, dedicou na última terça-feira uma página inteira a um protesto contra a proibição do governo, publicando um texto totalmente fragmentado e quase ininteligível em que mais de metade das palavras apareciam cobertas por retângulos negros. O caso foi amplamente divulgado pela imprensa estrangeira, mas a Justiça israelense só permitiu nesta quinta-feira que o público israelense tomasse conhecimento do conteúdo do que ficou conhecido no país como "episódio enigmático". Acusações Kam prestou o serviço militar obrigatório como secretária no gabinete do general Yair Nave entre os anos de 2005 e 2007, quando o general era o responsável pela zona militar que inclui a Cisjordânia. Segundo as acusações, durante o serviço militar, Kam teve acesso a milhares de documentos secretos que teria copiado em um CD. Meses depois do término do serviço, ela teria transferido os documentos ao jornalista Uri Blau, do jornal Haaretz. Blau, que escreveu no Haaretz sobre temas relacionados aos documentos, se negou a revelar suas fontes ao Shin Bet. Por causa da pressão exercida sobre ele, o jornalista acabou fugindo do país e agora se encontra em Londres. Kam, repórter do site israelense Walla, foi obrigada a tirar férias não remuneradas. No dia 14 de janeiro, ela foi indiciada por crimes de "espionagem grave" - que, segundo a lei israelense, podem resultar na pena de prisão perpétua. O advogado de Kam, Avigdor Feldman, declarou que ela não tinha intenções de prejudicar a segurança do Estado, mas, sim, de passar as informações para a imprensa. Feldman afirmou que, se tivesse intenções de prejudicar a segurança do país, Kim "poderia ter passado os documentos para grupos hostis, mas não o fez". Motivações De acordo com o advogado, as motivações de Kam para transferir os documentos à imprensa foram de "caráter moral", pois achava que eles comprovavam que o Exército israelense "estava cometendo crimes". Segundo as acusações, os documentos que Kam teria retirado incluem informações sobre operações militares, posicionamento das tropas israelenses na Cisjordânia e ordens dos chamados "assassinatos seletivos" - casos em que soldados israelenses mataram militantes de grupos palestinos. Segundo seu advogado, Anat Kam negou todas as acusações contra ela. A advogada do jornalista Uri Blau e do jornal Haaretz, Tal Liblich, disse nesta quinta-feira ao Canal 2 da televisão israelense que esses são "dias negros para a liberdade de expressão em Israel, quando as autoridades tentam obrigar jornalistas a revelar suas fontes". Liblich também afirmou que todas as reportagens que Blau escreveu foram submetidas ao exame da censura militar, que autorizou a publicação. Já o analista militar do Canal 2, Roni Daniel, disse que "obter os documentos que Kam roubou é o sonho de elementos hostis, pois os documentos são altamente sensíveis". "Do nosso ponto de vista, trata-se de um episódio militar da mais alta gravidade, pois qualquer país inimigo sonharia em pôr as mãos em documentos desse tipo", disse nesta quinta-feira o chefe do Shin Bet, Yuval Diskin, em uma coletiva à imprensa local. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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