Israel mata 16 e conflito se intensifica

No episódio mais sangrento de hoje, um tanque israelense bombardeou de longa distância uma pickup levando a mulher de um militante do Hamas e os três filhos do casal, que haviam sido pegos na escola.

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Por Agencia Estado
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Com aviões de combate, tanques e fuzis, Israel lançou nesta segunda-feira fortes ataques de represália contra palestinos, atingindo desde miseráveis campos de refugiados até bairros de classe média na Cisjordânia, matando 16 palestinos, entre eles cinco jovens e crianças em carros e um médico numa ambulância. Os múltiplos ataques na Cisjordânia e Faixa de Gaza foram executados após uma decisão do gabinete no domingo de intensificar a ação militar depois que 22 israelenses foram mortos em uma onda de atentados palestinos. "Estamos em guerra por nosso lar e a guerra é horrível", afirmou no Parlamento o primeiro-ministro Ariel Sharon, garantindo que Israel não irá sucumbir ao que descreveu como uma incansável campanha terrorista palestina. "Estou certo de que no fim iremos vencer e a paz virá a este lar". Sharon disse que os palestinos terão de ser punidos para aprender uma lição - a de que o terrorismo não compensa. Logo depois do anoitecer desta segunda-feira, aviões de combate F-16 israelenses bombardearam o quartel-general do líder palestino Yasser Arafat em Belém. Não houve notícias de vítimas, já que o prédio havia sido esvaziado dias atrás na expectativa de um ataque israelense. Explosão de violência A última semana foi marcada por uma das piores explosões de violência dos 17 meses de confrontos israelense-palestinos, e pelo fracasso de repetidos esforços internacionais para pôr fim ao banho de sangue. Cada lado afirma não ter escolha a reagir a ataques do outro. "A resposta será dura, e o inimigo sionista entenderá que irá pagar um alto preço", disse o xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do movimento islâmico Hamas, após as mortes palestinas de hoje. A Autoridade Palestina, liderada por Arafat, exigiu uma imediata intervenção internacional a fim de parar com "essa bárbara agressão israelense contra nosso povo e nossa terra". Bombardeio No episódio mais sangrento de hoje, um tanque israelense bombardeou de longa distância uma picape levando a mulher de um militante do Hamas e os três filhos do casal, que haviam sido pegos na escola. A explosão destruiu a picape, matando a mulher e as crianças, de 8, 14 e 17 anos, enquanto viajavam por um bairro de classe média de Ramallah. Um segundo carro, que passava na direção oposta, foi atingido por estilhaços, matando uma criança de 4 anos e um jovem de 16. Hussein Abu Kweik, o militante cuja família foi morta, não estava na picape. Ele prometeu que vingará as mortes. "Juro por Deus que eles (os israelenses) vão pagar um alto preço por esse crime", disse Abu Kweik, acompanhado por centenas de pessoas no lado de fora do Hospital de Ramallah. "Vamos continuar com nossa resistência até que o último soldado (israelense) abandone nossa terra". Abu Kweik é um líder local do Hamas, que já promoveu mais de 40 atentados suicidas a bomba contra israelenses durante o atual conflito. "Poe engano" O Exército israelense afirmou que o tanque tentou acertar um carro transportando policiais palestinos armados e que a picape foi atingida por engano. O ministro da Defesa israelense, Binyamin Ben-Eliezer, lamentou "a perda de vidas de civis palestinos". Israel já matou dezenas de supostos militantes palestinos em assassinatos seletivos, mas o porta-voz do Exército, general de brigada Ron Kitrey, disse que Abu Kweik não era um alvo. Tropas israelenses também promoveram duas novas incursões em campos de refugiados. No campo de Jenin, na Cisjordânia, seis palestinos foram mortos e 20 ficaram feridos em duros tiroteios entre tropas israelenses e militantes armados. Militares israelenses em helicópteros e tanques dispararam metralhadoras contra os militantes, que se abrigavam dentro de casas no campo superpovoado. Ambulância atingida Ambulâncias não conseguiam chegar aos feridos por algum tempo devido ao intenso tiroteio. O médico Khalil Suleiman, chefe do serviço de emergência local supervisionava de uma ambulância os esforços de resgate quando seu veículo foi atingido por um bombardeio israelense. Ele foi morto e três colegas ficaram seriamente feridos quando uma bomba de um tanque israelense atingiu a ambulância, informou a organização Vermelho Crescente, a Cruz Vermelha islâmica. O Exército israelense afirmou que a ambulância se aproximou em alta velocidade de uma barreira de Israel, e que os soldados recorreram a "disparos de armas leves", temendo que o veículo fosse atacá-los. Os militares isralenses disseram que a explosão levanta suspeita sobre o que havia dentro da ambulância. O Exército acusa que ambulâncias estão sendo usadas para contrabandear armas e atiradores, enquanto os palestinos afirmam que soldados de Israel dispararam indiscriminadamente até contra veículos de resgate. Nova invasão Na Faixa de Gaza, tropas israelenses invadiram o campo de refugiados de Rafah, na fronteira com o Egito, e demoliram três prédios. Tropas de Israel trocaram fogo com militantes, matando dois palestinos armados e um civil, e ferindo outras sete pessoas. Os militares israelenses argumentaram que as tropas estavam procurando túneis usados para contrabandear armas do Egito. Também hoje, tropas israelenses mataram a tiros um palestino que ameaçava, segundo o Exército, um posto de checagem de Israel nas proximidades de Nablus, Cisjordânia. Número de vítimas O número de vítimas cresceu dramaticamente na última semana, quando Israel invadiu dois campos de refugiados da Cisjordânia, numa tentativa de eliminar bastiões de militantes, matando 23 palestinos em confrontos. Em retaliação às incursões israelenses, as Brigadas Al Aqsa, milícia vinculada ao movimento Fatah, de Arafat, promoveram uma série de ataques. Na noite de sábado, um atacante suicida a bomba matou 10 israelenses, incluindo cinco crianças, num bairro ultraortodoxo judeu em Jerusalém. O atacante também morreu. Na manhã de domingo, um franco-atirador palestino matou sete soldados e três civis israelenses num posto de checagem do Exército na Cisjordânia, e escapou. Em 17 meses de confrontos, 1.043 pessoas já foram mortas no lado palestino e 312 no lado israelense.

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