Israel muda de política e se reúne com palestinos

Nova abordagem israelense prevê ajuda econômica, rede 4G, mais vistos de trabalho e liberdade de movimento

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Por Redação
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JERUSALÉM - Em uma noite de agosto, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, percorreu as estradas sinuosas da Cisjordânia para se encontrar com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (AP). O encontro durou 90 minutos, mas provocou reações dos dois lados e foi uma prova de que o novo governo israelense adotou uma abordagem mais cooperativa com os árabes.

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Foi a primeira vez em mais de sete anos que um importante ministro israelense se encontrou com Abbas. O governo anterior, de Binyamin Netanyahu, dizia que Abbas era um “incitador intransigente da violência” e nunca se encontrou com ele.

O novo governo de Israel vê Abbas como um baluarte contra o grupo islâmico Hamas. Outros ministros de Israel já se reuniram com líderes na Cisjordânia e disseram que estão tomando medidas concretas para beneficiar economicamente a população, aumentar a cooperação de segurança e mudar políticas discriminatórias. “A AP é o representante legítimo do povo palestino e estamos trabalhando para fortalecê-la”, disse Gantz.

Cinco palestinos morreram em confrontos com as forças israelenses Foto: Alaa Badarneh/EFE

Mas a entente que nasce tem limites, visto que o primeiro-ministro, Naftali Bennett, descartou a possibilidade de negociações de paz e a criação de um Estado palestino. Essas restrições levaram alguns críticos a caracterizar seu governo como uma espécie de “Netanyahu-light” e a criticar a AP por concordar com as medidas.

Além de Gantz, dois ministros do governo e o presidente Isaac Herzog também falaram com Abbas e pelo menos cinco ministros se reuniram com autoridades palestinas. Entre as medidas práticas de Israel está a concessão de residência a milhares de familiares de palestinos que viviam no limbo.

No mês passado, Israel aprovou a construção de mil novas casas palestinas em uma seção da Cisjordânia controlada por israelenses, uma área onde o governo raramente permitia que os palestinos construíssem Israel emprestou ainda à AP US$ 156 milhões para ajudá-la durante uma crise financeira, disse o ministro da cooperação regional de Israel, Esawi Frej. E aumentou em 15 mil trabalhadores a cota de palestinos autorizados a trabalhar em Israel, onde o salário mínimo é três vezes mais alto do que na Cisjordânia.

O Exército israelense deu às forças de segurança palestinas mais liberdade de movimento em áreas sob controle israelense e reduziu os ataques a regiões sob controle palestino, segundo um oficial militar, que pediu para não ser identificado.

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Os dois lados também começaram discussões para introduzir a tecnologia de celular 4G nos territórios ocupados. As empresas de telecomunicações palestinas precisam que Israel libere as frequências que podem usar para o serviço. A Cisjordânia atualmente tem 3G, enquanto Gaza ainda se arrasta no 2G. 

Nimrod Novik, analista do Fórum de Políticas Israelenses, disse que as novas políticas marcam “uma mudança dramática em relação à estratégia de Netanyahu, que tentava enfraquecer a AP a ponto de destruí-la, em vez de deixá-la respirar”. Mas, por melhor que seja a nova abordagem, a rejeição do governo israelense ao Estado palestino abre um flanco para as críticas, que dizem que Israel oferece uma versão suave da visão de Netanyahu.

O problema é que Bennett, mesmo se mudasse de ideia, provavelmente, seria derrubado, já que seu governo é uma coalizão frágil de partidos com posições mutuamente excludentes sobre o tema. Essa porta fechada deixou Abbas exposto a acusações de que ele estaria abandonando o nacionalismo palestino para aceitar uma “paz econômica”.

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Muitos palestinos reclamam que, mesmo tomando medidas para melhorar a economia e a segurança palestinas, Israel continua expandindo os assentamentos na Cisjordânia e demolindo casas construídas sem autorização. Alguns analistas, porém, argumentam que a abordagem econômica pode abrir caminho para que a AP ganhe mais autonomia. 

“Pequenas iniciativas ajudam a construir a confiança para mudanças mais importantes, como permitir que funcionários fiscais palestinos estejam nos portos ou concedendo aos palestinos maior liberdade de movimento”, disse Joel Braunold, diretor do Centro Daniel Abraham para a Paz no Oriente Médio. “Este processo pode permitir que a AP obtenha vitórias concretas e leve a mudanças que farão uma verdadeira diferença na vida dos palestinos comuns”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU 

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