Israel recebe, cético, plano de paz de Peres

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Por Agencia Estado
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O ministro do Exterior israelense, Shimon Peres, revelou nesta terça-feira detalhes de um plano que ele elaborou conjuntamente com o presidente do parlamento palestino para pôr fim aos 16 meses de derramamento de sangue e abrir caminho para o estabelecimento de um Estado palestino. Mas mesmo antes de Peres ir a público, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, e o ministro da Defesa, Binyamin Ben-Eliezer, líder do Partido Trabalhista de Peres, rechaçaram o plano, como inaceitável, e outros ministros da coalizão governista de Sharon se mostraram céticos. Plano conjunto O plano foi desenvolvido por Peres e Ahmed Qureia, conhecido como Abu Ala, em meses de reuniões secretas nas quais eles se esforçaram para ficar acima da violência diária e da guerra verbal. Em comentários à Rádio de Israel, Peres sugeriu que o plano tinha o apoio do líder palestino Yasser Arafat. "Existe uma proposta, que é aceitável para Abu Ala e os que o enviaram", afirmou Peres, acrescentando que iria mostrar o plano a Sharon e aguardar seus comentários. Dificuldades Peres deve enfrentar muitas dificuldades para convencer Sharon, que já enterrou várias iniciativas de seu chanceler. Outros integrantes da coalizão governista de Sharon - como membros do próprio partido de Peres - também se mostram céticos, e o chanceler está fazendo intensos contatos com políticos israelenses a fim de conquistar seu apoio. Qureia, pessoalmente, endossou o plano, apesar de ter dado poucos detalhes e a Autoridade Palestina ter sido vaga sobre sua posição. Qureia disse ter promovido as conversações com a aprovação de Arafat. Pontos da proposta vinham sendo discutidos há semanas na mídia, mas os dois negociadores permaneciam, em geral, calados. Ao apresentar pela primeira vez detalhes, Peres disse que o plano prevê três estágios, começando com um cessar-fogo - um objetivo que tem se mostrado difícil nos 16 meses de banho de sangue. Fronteiras de 1967 Pouco depois de a trégua ser alcançada, o plano antevê o reconhecimento mútuo dos Estados israelense e palestino. "Vamos reconhecer um Estado palestino, eles vão reconhecer o Estado de Israel", disse Peres à Rádio de Israel. Os dois lados teriam então um ano para negociar as fronteiras finais e outros termos do Estado palestino e outro ano para a implementação dos acordos. Durante visita à Casa Branca na semana passada, Sharon afirmou aceitar em princípio um Estado palestino, mas advertiu que o caminho para a paz poderia levar anos, ou mesmo uma geração. Peres disse que o Estado palestino seria estabelecido inicialmente no território já administrado pela Autoridade Palestina - cerca de dois terços da Faixa de Gaza e 40% da Cisjordânia. Os palestinos querem que seu futuro Estado seja criado em toda a Cisjordânia e toda a Faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. O ministro do Transporte de Israel, Ephraim Sneh, afirmou que os palestinos disseram a ele que querem que o documento Peres-Qureia inclua uma carta em que seja declarado que um Estado palestino seria estabelecido nas fronteiras existentes antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967. Isso significaria uma total retirada israelense da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. Perguntado se a informação era correta, Peres respondeu: "(As fronteiras de) 1967 mais mudanças, mais uma troca de terra". Sharon é contra Mas Sharon, que sempre resistiu a concessões territoriais e não aceitou nenhum acordo de paz já feito por Israel com os árabes, se opõe a um tratado tão abrangente. Israel tem cerca de 150 assentamentos judeus na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Sharon se nega a desmantelá-los, o que exige que Israel mantenha o território onde foram montados. Sete anos de negociações Em sete anos de negociações formais de paz, que foram suspensas um ano atrás em meio aos confrontos, o objetivo era resolver todas as maiores disputas, culminando com um Estado palestino. O plano Peres-Qureia dá um tratamento diferente ao problema, estabelecendo rapidamente um Estado palestino e depois trabalhando nos detalhes mais contenciosos, como fronteiras e o destino de 4 milhões de refugiados de guerra palestinos e seus descendentes. Mísseis O ministro da Defesa de Israel, Ben-Eliezer, advertiu nesta terça que poderá enviar tropas para ocupar algumas áreas palestinas por períodos longos, caso os militantes palestinos lancem mais foguetes Qassam-2. Dois destes projéteis, lançados nesta segunda-feira pelo grupo militante islâmico Hamas, caíram em um campo aberto ao sul de Israel, sem causar danos ou vítimas. "O Qassam é algo que cruza todas as nossas linhas vermelhas devido a seu alcance", disse o ministro durante uma visita ao norte do país. Também nesta terça, tropas israelenses ocuparam a cidade de Halhoul, na Cisjordânia e mataram um pistoleiro palestino. Na mesma operação, os israelenses destruíram uma casa e detiveram um membro procurado do movimento Fatah, de Arafat, antes de se retirar, cinco horas depois.

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