Israel toma controle de mais duas cidades palestinas

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Por Agencia Estado
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Ampliando sua ofensiva na Cisjordânia, Israel tomou nesta terça-feira o controle de mais duas cidades num dia de intensos confrontos que deixaram pelo menos 13 palestinos mortos. Militantes palestinos entraram a força na Igreja da Natividade, na cidade onde nasceu Jesus, e tanques e helicópteros israelenses bombardearam o quartel-general de um poderoso chefe de segurança palestino. Em meio à maior ofensiva israelense em mais de um ano e meio de conflito, palestinos rechaçaram com irritação uma proposta israelense de libertar Yasser Arafat do confinamento em seu QG na cidade de Ramallah, na Cisjordânia - desde que ele fosse para o exílio. O líder palestino passou hoje o quinto dia seguido isolado por tropas e tanques israelenses, seu QG agora está cercado por arame farpado. Tropas israelenses voltaram a promover buscas de casa em casa atrás de militantes e armas como parte do que Israel chama "Operação Muralha Protetora" - visando conter uma onda de atentados contra israelenses, inclusive seis atentados suicidas à bomba nos últimos seis dias. Numa cena dramática que sublinha o sofrimento causado pela incursão israelense, palestinos enterraram 15 de seus mortos no estacionamento de um hospital de Ramallah porque suas famílias não puderam reclamar os corpos, que estavam se decompondo no necrotério do hospital devido ao corte de energia elétrica. Parentes choravam e disparos ecoavam ao longe enquanto os corpos eram colocados em valas comuns que foram cobertas por um trator - uma para 13 homens e a outra para duas mulheres. Moradores de Ramallah, entretanto, conseguiram um alívio de poucas horas de um toque de recolher que está em vigor desde que tanques e tropas israelenses entraram na cidade na sexta-feira. Pessoas correram às lojas em busca de alimentos, de preferência não perecíveis, já que não existe eletricidade para fazer as geladeiras funcionarem. Ao cair da noite, a maioria de cerca de 400 palestinos cercados no complexo do chefe de segurança Jibril Rajoub na Cisjordânia se renderam às tropas israelenses, num acordo mediado por autoridades dos Estados Unidos e da Europa. Cerca de oito homens permaneceram no interior. O amplo complexo foi duramente bombardeado pelos israelenses. Nem lugares sagrados foram poupados da violência. Dezenas de palestinos armados foram cercados no interior da Igreja da Natividade, em Belém, construída sobre a gruta teria nascido Jesus Cristo segundo a tradição. Cerca de 20 dos milicianos foram feridos e atendidos por freiras, disseram testemunhas cercadas dentro do complexo da igreja. Os homens armados, alguns deles policiais palestinos, forçaram sua entrada na igreja depois de confrontarem tropas, helicópteros e tanques israelenses. Ao anoitecer, os corpos de quatro homens estavam jogados nas proximidades da Praça da Manjedoura, onde fica a igreja. Enquanto a violência se intensificava, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, propôs publicamente pela primeira vez que diplomatas europeus levassem Arafat para o exílio de helicóptero. Sharon sublinhou que tal ação exigiria a aprovação de seu ministério, mas os palestinos rechaçaram imediatamente a oferta. O líder palestino "não irá sair da Palestina - essa foi sua volta final", disse o ministro do Planejamento palestino, Nabil Shaath. Os confrontos têm ocorrido quase sem ininterruptamente. Tanques israelenses entraram antes do amanhecer de hoje em Belém e Tulkarem e o assalto ao QG de Rajoub, no vilarejo de Beitunia, na Cisjordânia, também ocorreu durante a madrugada. O ministro israelense de Relações Exteriores, Shimon Peres, garantiu que a ofensiva irá durar três ou quatro semanas, na primeira vez que uma autoridade israelense faz uma previsão de duração da ofensiva. Entretanto, Sharon tem dito que a campanha não tem prazo para terminar. Em Washington, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, afirmou que Israel deve completar rapidamente sua campanha, mas sugeriu que os EUA não insistirão numa imediata retirada israelense. "Suponho que eles (os israelenses) vão levar um par de semanas" para concluir a missão, afirmou Powell numa entrevista à tevê americana. Soldados israelenses continuaram hoje com a prática de deter palestinos desde adolescentes até homens em seus 40 anos - uma tática denunciada pelos palestinos como uma punição coletiva, mas que Israel afirma ser um meio legítimo de capturar homens procurados. Cerca de 700 suspeitos foram detidos desde sexta-feira em Ramallah, segundo o porta-voz do Exército, general de brigada Ron Kitrey. Civis palestinos têm buscado segurança permanecendo em suas casas, já que uma saída à rua pode ser mortal. Uma palestina de 56 anos foi morta a tiros, aparentemente por franco-atiradores israelenses, quando voltava para casa depois de ser atendida no Hospital de Ramallah. Cada dia de batalha traz algo inesperado. As forças de Rajoub, que eram intimamente ligadas aos serviço secreto norte-americano nunca haviam sido atacadas antes por Israel. E até agora, os combates ainda não haviam alcançado a Igreja da Natividade, um dos mais importantes locais sagrados do cristianismo. Forças israelenses entraram em Belém diversas vezes durante os últimos 18 meses de conflito, mas recebiam ordens claras de não atacarem locais sagrados e mantinham distância da igreja. Isto, no entanto, transformou o local num refúgio atrativo para pistoleiros muçulmanos. Também ocorreram intensos tiroteios em frente ao Convento de Santa Maria, no centro de Belém, dirigido por freiras salesianas uma ordem da Igreja Católica Apostólica Romana. Perto do convento, Samieh Abdeh, de 64 anos, e seu filho Khaled, de 38, foram feridos pelo fogo israelense quando se encontravam dentro de casa, disse Sami, outro filho de Samieh. Os soldados israelenses impediram que ambulâncias chegassem à casa e os dois sangraram até a morte, denunciou Sami. Em um apelo ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, líderes cristãos da região exigiram o "fim imediato desta tragédia desumana que ocorre nesta Terra Santa, em nossas cidades e vilarejos palestinos". Ainda nesta terça-feira, dois israelenses morreram em decorrência dos ferimentos sofridos em um atentado suicida perpetrado na semana passada durante um banquete da Páscoa judaica num hotel em Israel. Com isso, o número de mortos sobe para 24, transformando este no mais sangrento atentado palestino em mais de um ano e meio de conflito.

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