Israelenses deixam cidade palestina e invadem outra

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Por Agencia Estado
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Israel retirou-se nesta sexta-feira de Hebron, ao mesmo tempo em que reocupava a cidade de Jenin, no extremo norte da Cisjordânia, numa de suas maiores operações militares nos últimos meses - uma resposta ao atentado contra um ônibus nesta semana. A ofensiva sobre Jenin e a retirada de Hebron ocorrem no momento em que o enviado especial norte-americano, o subsecretário de Estado William Burns, mantém conversações com palestinos e israelenses, céticos com relação a um novo plano de paz para o Oriente Médio, que prevê um Estado palestino provisório em 2003 e a total independência desse povo até 2005. Numa provocação ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, Burns reuniu-se com a parlamentar palestina Hanan Ashrawi nesta sexta-feira a poucos metros do devastado quartel-general do líder palestino, em Ramallah, na Cisjordânia. Os Estados Unidos vêm boicotando Arafat sistematicamente, alegando que ele não cumpriu promessas de reprimir extremistas. Ashrawi, que recebeu Burns em sua casa, em frente ao QG de Arafat, disse ao enviado norte-americano ser essencial a realização de eleições presidenciais, e não apenas parlamentares, como quer a Casa Branca. Ela também disse que os palestinos devem cuidar de seus assuntos internos. Jenin foi qualificada pelo Exército de Israel como "a capital do terror", segundo palavras do ministro de Defesa, Binyamin Ben-Eliezer. "Não temos outra escolha a não ser entrar e tentar limpar o que for possível." Dois jovens moradores de Jenin, membros do grupo Jihad Islâmica, explodiram um ônibus israelense na última segunda-feira, suicidando-se e matando outras 14 pessoas, entre militares e civis. Durante a madrugada de hoje, centenas de soldados, escoltados por tanques, entraram em Jenin e num campo de refugiados na periferia da cidade. Um toque de recolher foi imposto e mais de 30 edifícios foram tomados pelos soldados, denunciaram moradores. No campo de refugiados, palco de uma sangrenta batalha em abril, atiradores, alguns deles adolescentes, trocaram tiros com soldados. Dois pistoleiros, um de 16 e outro de 18 anos, ficaram gravemente feridos, disseram fontes hospitalares. No centro da cidade, dezenas de jovens palestinos atiraram pedras em tanques. O Exército reagiu com munição. Um rapaz de 18 anos ficou gravemente ferido. Outros dois palestinos sofreram ferimentos menores. Fadwa Fayed, de 24 anos, moradora de Jenin, contou que 40 residentes do prédio de cinco andares onde vive foram confinados pelos soldados em duas salas sem janelas, no térreo. Soldados montaram guarda na porta das salas para evitar que as pessoas saíssem. Por telefone celular, Fayed contou que os soldados tomaram os andares superiores. Um comandante do Exército de Israel disse a jornalistas em Jenin que os soldados estavam em busca de cerca de 20 militantes palestinos. "Tentaremos cobrir a cidade inteira, imporemos um toque de recolher, realizaremos buscas e criaremos formas de pegar os terroristas", afirmou. Ele pediu para que sua identidade não seja revelada. O oficial comentou que os militantes que atacaram na segunda-feira saíram de Jenin e chegaram a Israel depois de o Exército ter amenizado as restrições na cidade. Segundo ele, o ataque "aparentemente encorajou a célula de Jenin, que está se rearmando e recrutando novos militantes". Esta foi uma das maiores operações militares de Israel na Cisjordânia desde que seu Exército invadiu as cidades da região, inclusive Hebron, em junho, após dois atentados suicidas contra Jerusalém. Nesta sexta-feira, um comboio de sete jipes do Exército deixou o setor palestino da cidade de Hebron. Um comandante israelense disse que as forças militares permaneceriam em três bairros, dos quais militantes palestinos freqüentemente atacam os colonos judeus que vivem no centro da cidade. Enquanto saíam, os soldados jogavam panfletos em árabe para os pedestres. Uma mensagem dizia que a vida voltaria ao normal na cidade, já que não eram registrados ataques contra israelenses. Os soldados permanecerão no centro de Hebron, numa área controlada por Israel onde cerca de 500 colonos vivem em enclaves fortificados. Israel continuou controlando a área mesmo após a retirada israelense da maior parte de Hebron, em 1997.

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