Israelenses não merecem líder como Sharon, diz Lafer

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Por Agencia Estado
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O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, criticou nesta quinta-feira, na tribuna do Senado Federal, a atual orientação do governo de Israel em relação à Autoridade Palestina e chegou a declarar que o povo israelense "não merece" contar com um líder como o primeiro-ministro Ariel Sharon. Lafer reforçou a tese brasileira de que a única forma de controlar o conflito no Oriente Médio e retomar as negociações para a paz é a interferência dos Estados Unidos, por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU). As duras críticas de Lafer contra Sharon endossaram os ataques feitos pouco antes pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) ao primeiro-ministro de Israel. O chanceler havia sido convocado ao Senado para explicar aos parlamentares as medidas de salvaguardas adotadas pelos EUA às importações de aço, mas foi insistentemente questionado sobre o conflito no Oriente Médio. "Os israelenses não merecem o primeiro-ministro que têm. O Estado de Israel vai ter de prestar contas, no futuro, dos atos desse primeiro-ministro", afirmou Simon. "Também acho que o Estado de Israel não merecia um primeiro-ministro com as características do atual", concordou Lafer. Na avaliação do ministro, o povo israelense perdeu a oportunidade de eleger um primeiro-ministro com visão mais abrangente sobre o processo de paz com os palestinos ao rejeitar Ehud Barak e escolher Sharon no último pleito. Conforme sua análise, no labirinto histórico no qual a região está envolvida, o caminho que se encontra bloqueado é justamente o da paz. Para ele, a política adotada pelo atual primeiro-ministro de combate ao terror com forças militares destruirá as cidades e as populações, mas deixará intacto justamente o terror. De acordo com Lafer, o chanceler israelense, Shimon Peres, é atualmente "quem representa as expectativas de paz, do ponto de vista de Israel". Ele informou que conversou com Peres nos últimos dias sobre a importância da retomada dos esforços conduzidos pelo enviado especial norte-americano, general Anthony Zinni. Para o governo brasileiro, esse seria um caminho para que Israel cumpra as resoluções da ONU e, portanto, retire suas tropas dos territórios palestinos. O ministro deixou claro que uma solução para o conflito somente poderá surgir a partir de uma interferência incisiva dos Estados Unidos que levasse o Conselho de Segurança da ONU a agir. Entretanto, indicou seu desapontamento com relação às decisões do presidente dos EUA, George W. Bush, sobre a questão. Conforme declarou, o mundo está "diante de um governo norte-americano mais difícil", cujas ações contam com desdobramentos como a proteção em cadeia ao aço e a crise do Oriente Médio. Para Lafer, somente depois de o governo norte-americano converter-se de fato em um interlocutor, a União Européia tenderia a apoiar as decisões do mesmo Conselho. Essa situação, disse o ministro, ficou clara em conversa mantida na última segunda-feira entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o primeiro-ministro da Espanha, José María Aznar, que também preside neste semestre a União Européia. Nos últimos dias, FHC também entrou em contato com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Além das conversas com Perez, Lafer tratou sobre o conflito no Oriente Médio com os chanceleres da Espanha e de Portugal. O Itamaraty também manteve contatos com o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

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