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Israelenses vão às urnas sem esperança de paz

Por Agencia Estado
Atualização:

Sem esperança de uma solução para o conflito com os palestinos, nem para a recessão econômica e a corrupção já endêmica na administração pública, os israelenses vão às urnas na terça-feira eleger um novo Parlamento (Knesset), do qual sairá o quarto governo do país em apenas sete anos. Com tudo indo mal, os eleitores parecem convencidos a deixar as coisas como estão. Não vêem alternativa na oposição e temem que o cenário fique ainda pior sem a liderança do primeiro-ministro Ariel Sharon, de 74 anos, cujo partido, o direitista Likud, desponta nas pesquisas com a perspectiva de obter de 31 a 34 das 120 cadeiras da Knesset. Seu principal rival, o centro-esquerdista Partido Trabalhista, chefiado pelo prefeito de Haifa, Amram Mitzna, de 57 anos, corre até o risco de cair para a terceira posição, indicam as sondagens, ficando com menos de 18 cadeiras e sendo superado pelo anticlerical Shinui, dirigido pelo ex-jornalista Tommy Lapid, de 71 anos, que pode eleger ao menos 16 parlamentares (hoje, tem só 6). O partido se beneficia das acusações de corrupção contra Sharon e Mitzna. Curiosamente, na eleição de 1999 a força política emergente, com a terceira maior bancada na Knesset, foi um rival visceral do Shinui: o ultra-ortodoxo sefardita Shas, cotado para fazer 12 cadeiras desta vez, mas ainda com poder de barganha, como parte da bancada dos religiosos - total previsto de 20 parlamentares. O Shinui tem em sua plataforma o corte dos recursos públicos destinados às escolas religiosas do Shas, o funcionamento do transporte público no shabat (o período religioso de descanso, que vai do pôr-do-sol de sexta-feira ao do sábado), a extensão do serviço militar a ortodoxos que estudam em seminários e a adoção do casamento civil no país. Disputam a eleição 28 partidos, dos quais se estima que pelo menos 15 devem conseguir o mínimo de 1,5% dos votos necessários (50 mil) para entrar na Knesset. Esse baixo teto, aliado à forte divisão política e social da sociedade israelense faz com que os pequenos agrupamentos religiosos sejam influentes e dificilmente fiquem fora do governo. A coalizão liderada por Sharon sobreviveu apenas 20 meses, num período em que o confronto com os palestinos se agravou, houve um número recorde de mortos israelenses em atentados e nas incursões do Exército nos territórios ocupados (698) e a economia mergulhou numa das piores crises da história do país. O desemprego já atinge 10,5% da população, o PIB decresceu 1% em 2002, a inflação saltou de 1,4% em 2001 para 6 5% em 2002 e a disparidade de renda se acentua. Pior ainda: as perspectivas de formação de um governo estável são sombrias. O desempenho desastroso de Mitzna é um mau negócio para Sharon, observou na sexta-feira o analista político Yossi Verter, no diário Haaretz, porque tornará mais complicadas as negociações para formar o novo gabinete e, além de tudo, fortalecerá a ala do partido disposta a permanecer na oposição. Sharon acabará mais dependente dos religiosos e da extrema-direita, criando um cenário ainda mais desastroso para a retomada do processo de paz no Oriente Médio. Muitos analistas políticos - e integrantes do trabalhismo - responsabilizam Mitzna pelo descenso das últimas semanas, por ter prometido que jamais integrará um governo de unidade nacional liderado pelo Likud. Um governo de união nacional é uma das aspirações da maioria da população no atual cenário de crise.

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