Itália cria lista de médicos mortos na guerra ao coronavírus

Federação dos médicos conta 17 profissionais que foram vítimas da epidemia de covid-19; primeira morte foi em 13 de março

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Por Marcelo Godoy
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Roberto Stella tinha 67 anos. Era clínico-geral e presidia a ordem dos médicos, em Varese, cidade com 82 mil habitantes da Lombardia, região mais afetada pelo coronavírus na Itália. Os amigos contam que se manteve na linha de frente de atendimento aos pacientes até o momento em que foi contaminado. A doença progrediu rápido. Em pouco tempo teve de ser internado no hospital Sant’Anna, da cidade de Como.

No dia 11 de março pela manhã, a família recebeu a notícia de que ele se tornara o primeiro médico a morrer na Itália. “Morreu como herói, como era todos os dias de sua vida com seus pacientes. Eu o encontrei diversas vezes em fevereiro e ele lhe havia dito para desacelerar, cuidar dele mesmo e ele me respondeu. Irmão – ele me chamava assim –, nós estamos aqui para trabalhar e combater”, disse ao Corriere della Sera, Savério Chiaravelle, médico e amigo de Stella. 

O presidente da Ordem dos Médicos da região Varese, Roberto Stella, morto no dia 11 de março Foto: OndawebTV / REPRODUÇÃO

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A história de Stella inspirou a Federação das Ordens dos Médicos Cirurgiões e Dentistas da Itália (Fnomceo) a criar um site em homenagem aos “mortos em combate”. Já são 17 os médicos mortos pela covid-19 no país desde o início da epidemia, em fevereiro. A lista completa é atualizada todos os dias no site da federação. “Seus nome permanecerão nessa lista em sua memória, um triste elenco que será atualizado todos os dias, junto com os dados sobre os casos de contágio. Um alerta para todos”, informou a Fnomceo.

O presidente da Federação, Filippo Anelli, afirmou que “os nomes dos nossos colegas colocados aqui, preto sobre o branco, fazem um barulho ensurdecedor”. Até o dia 17, terça-feira, a Itália havia contado 2.629 profissionais da área da saúde contaminados no país, de acordo com dados do Instituto Superior de Saúde.

Ainda segundo os dados do instituto, esses profissionais representam 8,3% do total de atingidos apesar de a categoria representar apenas 2,5% do total da população italiana. “Não podemos mais permitir que os nosso médicos, os nossos operadores sanitários, sejam de enviados a combater o vírus de mãos vazias. É uma luta desigual que nos faz mal e mal ao país”, afirmou Anelli.

A pior situação é a enfrentada pelos médicos de Bergamo, também na Lombardia. Ali os clínicos-gerais doentes ou em quarentena são 128, dos quais só 98 foram substituídos. São os clínicos os profissionais médicos mais atingidos pela epidemia. Nove deles estão entre os mortos – há ainda um psiquiatra, um pediatra, além de pneumologistas e epidemiologistas.

O elenco produzido pela federação mostra que os dois piores dias para os médicos na Itália foram 13 e 18 de março. Cada um deles registrou a morte de 3 profissionais pela covid-19. Desde o dia 11, só na cidade de Bergamo foram registradas cinco mortes. Os municípios de Lodi e de Como, também na Lombardia, contaram cada uma três mortes.

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