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Italianos votam na América do Sul

Após queda do governo Prodi, região volta a escolher 3 deputados e 2 senadores para o Parlamento em Roma

Por Gabriella Dorlhiac
Atualização:

Depois de apenas dois anos, os italianos preparam-se para escolher novamente seu governo. A instabilidade política da coalizão de centro-esquerda levou à queda do primeiro-ministro Romano Prodi e novas eleições foram convocadas. Mas não só a população da Itália voltará às urnas. Antes da votação no país, nos dias 13 e 14, os italianos residentes no exterior, cerca de 3 milhões, terão a chance de escolher seus representantes. Desde 2006, uma lei aprovada pelo então primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, não apenas permite que os italianos que vivem fora do país votem, mas também que se candidatem a senador ou deputado. Para isso, foram criadas quatro zonas eleitorais no exterior: América do Norte e Central; América do Sul; África, Ásia e Oceania; e Europa. Os cidadãos italianos que vivem nessas regiões e preenchem os requisitos da lei eleitoral da Itália podem candidatar-se. Eles receberão os votos apenas dos eleitores da sua circunscrição. Ao todo, as zonas eleitorais no exterior elegerão 12 dos 630 deputados e 6 dos 315 senadores. A América do Sul terá 3 representantes na Câmara e 2 no Senado. A possibilidade de eleger seus próprios representantes e, conseqüentemente, ter voz na Itália, foi vista pelos italianos no exterior como um reconhecimento de Roma de sua importância. Muitos foram forçados a emigrar durante a 2ª Guerra e sentiam-se desprezados e ignorados pelo país de origem. Candidato à reeleição para o Senado, o brasileiro Edoardo Pollastri vê sua missão política como a volta desses imigrantes à Itália por meio de seus representantes no Parlamento. Em sua primeira campanha em 2006, o slogan de Pollastri, que é presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, era justamente ''A sua voz na Itália''. Pollastri, que era candidato da coalizão de Prodi, a União, disputará agora uma cadeira no Senado pelo Partido Democrático (PD), de Walter Veltroni, sucessor político de Prodi. ''A configuração da coalizão, com partidos centristas e radicais de esquerda, impossibilitou o trabalho do governo'', disse. Apesar de ter tido pouco tempo para atuar como a voz dos italianos da América do Sul, Pollastri afirma que o balanço de seu mandato foi positivo. ''No começo demora um pouco para você aprender como se articular, mas percebi que a questão-chave na Itália é ter a verba. Se você tem a verba, consegue as coisas.'' Esse aprendizado resultou num aumento de 14 milhões na verba investida em benefícios para os italianos que vivem no exterior. Pollastri diz orgulhar-se de ter conseguido 96% de presença na sessões do Parlamento - número alto se comparado a outros representantes, como o argentino Luigi Pallaro, que teve 46%. Para manter-se em contato com os italianos na América do Sul, ele tinha um escritório em Roma e um em São Paulo. ''Respondi a todos os e-mails que me foram enviados por eleitores'', garante. Nas férias, ele voltou a São Paulo e acompanhou de perto as demandas dos italianos - que querem melhores serviços consulares e assistência social da Itália. Além do desafio de ter pouco tempo para fazer campanha (as listas partidárias foram fechadas duas semanas atrás), os candidatos podem gastar, segundo a lei eleitoral italiana, apenas 52 mil (R$ 142 mil). Com essa quantia, têm de imprimir panfletos, enviar material por correio e viajar. Com um continente como campo eleitoral, os candidatos precisaram fazer uma boa seleção dos países a serem visitados. O oftalmologista Antônio Aldo Chianello, candidato ao Senado pelo Popolo della Libertá (PDL), de Berlusconi, visitará a Argentina - que tem a maior comunidade na região -, Venezuela, Uruguai e Peru. ''Quero mostrar que o governo Prodi não cumpriu suas promessas. Com Berlusconi poderemos remediar a desilusão italiana de hoje'', disse o médico, derrotado em 2006. O presidente da Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro, do Rio de Janeiro, acredita que com todos os partidos de centro-direita agregados numa única coalizão - o que não aconteceu há dois anos -, ele terá mais chances de chegar ao Parlamento. Tanto Pollastri quanto Chianello, porém, ressaltaram a importância de os italianos que moram no Brasil irem às urnas, garantindo representantes do país e evitando uma vitória avassaladora dos candidatos argentinos. No país vizinho, a vantagem no número de eleitores não torna o trabalho dos candidatos mais fácil. O candidato independente à Câmara, Ricardo Merlo, do Movimento Associativo Italiano no Exterior, disse que seu único objetivo é terminar o que começou. ''A crise política tornou as condições de trabalho muito precárias e impossibilitou a realização de projetos.'' *Mais informações pelos telefones 3253-4188 e 3284-3005 do Consulado Geral da Itália em São Paulo.

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