O Ministério das Relações Exteriores não respondeu a um pedido de informações feito pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) sobre a presença do empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), e do presidente da Léros, Kleber Ferreira, nas dependências do Itamaraty ou em reuniões governamentais bilaterais ou multilaterais.
Valente fez o pedido de informações por meio de seu gabinete na Câmara e também via Lei de Acesso à Informação no dia 6 de agosto, pouco depois de o caso envolvendo a comercialização de energia excedente de Itaipu vir à tona. No dia 21 o MRE disse ao deputado que “as pessoas citadas não são servidores do MRE, não estando, portanto, submetidas ao controle de registro do ponto eletrônico”.
A mensagem partiu da Secretaria de Gestão Administrativa do Itamaraty. Na terça-feira foi revelado que Giordano esteve no Palácio do Planalto no dia 27 de fevereiro, um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro ter se encontrado com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, na cerimônia de posse do doretor brasileiro de Itaipu.
O deputado do PSOL disse que vai recorrer da resposta do MRE. A assessoria do Itamaraty foi procurada para responder se a pasta possui registro apenas dos funcionários ou de todas as pessoas que entram em suas dependências, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Nesta quarta-feira, 28, Valente e o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), protocolaram um requerimento junto à Comissão de Relações Exteriores da Câmara para que Giordano e Kléber sejam ouvidos. A comissão, presidida pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), já aprovou convites aos ministros Ernesto Araújo (MRE) e Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, de Minas e Energia, para falar sobre o caso.
Suplente do PSL falava em nome de Bolsonaro, diz assessor
O ex-assessor da vice-presidência do Paraguai José 'Joselo' Rodríguez– apontado como lobista na tentativa de venda de energia da Usina de Itaipu para a empresa brasileira Léros – disse em entrevista à imprensa paraguaia nesta quarta-feira, 28, que o empresário Alexandre Giordano falava nas negociações em nome do governo brasileiro.
“Em todas as conversas com a empresa brasileira, a primeira coisa que faziam era dizer que tinham apoio da alta cúpula do governo brasileiro para obter a autorização para importar energia”, disse Rodríguez à Rádio ABC Cardinal. “Isso disseram não apenas a mim, mas na reunião pública também.
Questionado se Giordano disse que a Léros estaria vinculada à família do presidente Jair Bolsonaro, o ex-assessor respondeu que sim. “Não disseram isso só a mim, mas a todos os demais.”
Giordano esteve no Planalto e viajou ao Paraguai
Suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), Giordano esteve no Palácio do Planalto um dia depois de o presidente visitar Itaipu, em fevereiro. Ele viajou duas vezes ao Paraguai no primeiro semestre para discutir a compra de energia excedente de Itaipu para a Lérosnum jatinho da empresa– o que é ilegal, segundo a CPI que apura o caso no Paraguai.
A primeira viagem de Giordano ao Paraguai ocorreu em 9 de abril juntamente com Adriano Tadeu Deguimerndjian Rosa, executivo da Léros e o advogado Cyro Dias Lage Neto, além de dois tripulantes. Eles voltaram a Foz do Iguaçu no mesmo dia. A segunda viagem ocorreu em 25 de junho.
Crise começou com vazamento de mensagens
A crise em Itaipu começou quando mensagens de celular vazadas para a imprensa revelaram que o governo do presidente Mario Abdo Benítez aceitou um acordo lesivo ao país nas negociações com o Brasil. O escândalo quase levou ao impeachment de Abdo Benítez e só perdeu força depois de Bolsonaro anunciar a anulação do acordo.
Em paralelo, veio à público a informação de que a vice-presidência paraguaia pressionou a Ande, a estatal elétrica paraguaia, para vetar um artigo do acordo que dificultaria a venda de energia exclusivamente para a Léros. Nas conversas entre Joselo e a Ande, apareceu o nome de Giordano.