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<i>Time</i> irrita portugueses com prostituição brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

Sob o título O Novo Bairro Europeu da Prostituição (Europe?s New Red Light District), a edição européia da revista norte-americana Time dedica a capa da edição de hoje a uma longa reportagem sobre a prostituição brasileira na cidade portuguesa de Bragança, afirmando que o "fenômeno é encarado com naturalidade pela população local". "Nunca tínhamos entrado no assunto e achamos que agora era hora de fazer uma reportagem sobre esta realidade", explica Martha de La Cal, correspondente da revista em Portugal, que admitiu ser esta a primeira vez que foi a Bragança. A reportagem sai seis meses depois do impacto, provocado na mídia, pelo manifesto das "Mães de Bragança" contra a prostituição. Foi um abaixo- assinado contra o fenômeno da prostituição de mulheres brasileiras, que, segundo elas, estava "desfazendo" seus lares. As portuguesas entregaram o documento às autoridades locais, desde o governador ao presidente da Câmara, passado pelo comandante da polícia. A iniciativa abriu um debate em torno do assunto e as opiniões locais são unânimes em afirmar que o fenômeno deixou de ser tão visível, desde então. As "meninas brasileiras" passaram a ser mais discretas em passeios pela cidade e alguns setores da economia local sentiram a sua ausência, principalmente os táxis e os cabeleireiros, muito utilizados por elas. A divulgação do assunto criou também, durante algum tempo, um estigma para o sotaque brasileiro, sendo abundantes histórias de mulheres vaiadas por serem confundidas com as "meninas" das casas noturnas. A jornalista conta que acompanhou o caso "pelos jornais diários e pelas televisões" e que não ficou surpreendida com o que encontrou em Bragança. "Eu acho que a população local agora encara com mais naturalidade o fenômeno da prostituição, que não é exclusivo de Bragança e se estende por outras cidades portuguesas e por toda a Europa", diz. Martha de La Cal considera mesmo que os bragantinos já perceberam "que a prostituição não vai acabar e haverá sempre" e elogiou ainda o tratamento dado pelos órgãos de comunicação social à polêmica. "Acho que as televisões não exageraram, antes refletiram bem o que se passava em Bragança", disse. Entretanto, hoje, na cidade, um misto de incredulidade e ironia predomina em todas as conversas, depois que a projeção do movimento "Mães de Bragança" ultrapassou as fronteiras através da Time. Os comentários vão do tom mais sarcástico dos que não entendem o destaque dado à profissão mais velha do mundo à incredulidade de outros, que jamais imaginaram "ver" Bragança "nas boca do mundo". As autoridades locais, por sua vez, reagiram com indignação à reportagem. "Bragança não é nenhum paraíso do turismo sexual. Não estamos na Tailândia", foi a reação do bispo D. António Montes Moreira. Na opinião do prelado, "a gravidade do fenômeno não justifica as honras de primeira página". O governador civil diz, no entanto que as autoridades têm atuado e que "o fenômeno está mais atenuado", em comparação com o que se passava aquando da ação do movimento "Mães de Bragança". Para José Manuel Ruano, o fenômeno resume-se, porém a duas casa, que apelidou de "espeluncas", adiantando que uma delas é alvo de um processo judicial em fase adiantada. Para o presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, "a notícia não tem relevância nenhuma". "Por essa Europa a fora há situações que não têm comparação com o que se passa em Bragança", considerou. Para algumas das "Mães de Bragança" ouvidas pela Lusa, esta é "mais uma oportunidade para lembrar às autoridades o que se passa". "Nos outros lugares até pode acontecer o mesmo, mas as pessoas não se manifestam", disse uma das "mães", que continuam a pedir o anonimato.

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