Japão considera ataque preventivo contra Coréia do Norte

Governo já considera alterar constituição pacifista para permitir ofensiva. Para analistas militares japoneses, país não tem capacidade para intervir militarmente

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um porta-voz do governo japonês disse nesta segunda-feira que o país considera a possibilidade de promover "ataques preventivos" contra bases de mísseis da Coréia do Norte caso a Constituição pacifista do Japão permita tal ataque. A declaração foi feita no mesmo dia em que Tóquio concordou em adiar a votação sobre uma resolução contra Pyongyang no Conselho de Segurança da ONU. Para as autoridades japonesas, as negociações podem não ser suficientes para barrar as ameaças encabeçadas por Pyongyang. "Se chegarmos à conclusão de que não há nenhuma outra alternativa a não ser prevenir um ataque, existe a percepção de que um ataque a uma base de mísseis estaria de acordo com o direito constitucional de autodefesa. Precisamos discutir isso a fundo", declarou Shinzo Abe, secretário-chefe de gabinete do governo japonês. "É irresponsabilidade não fazer nada quando sabemos que a Coréia do Norte poderia nos atacar com os mísseis", disse o secretário geral do governista Partido Liberal Democrata. "Nós deveríamos considerar todas as medidas, inclusive mudanças legais" requeridas para um ataque como este, completou. A Constituição japonesa, redigida pelos EUA e intocada desde a Segunda Guerra Mundial, proíbe o uso da força militar para a resolução de disputas internacionais e impede o país de manter um Exército preparado para uma eventual guerra. O governo japonês, entretanto, considera-se no direito de manter forças de autodefesa para proteger-se. A questão, nesse caso, é se um ataque preventivo poderia ser definido como autodefesa. Mesmo que o Japão resolva o impasse constitucional, há dúvidas se o país possui capacidade militar para realizar um ataque contra a Coréia do Norte. Segundo analistas, o Japão não possui mísseis balísticos capazes de alcançar a Coréia do Norte. "A Força Aérea japonesa está entre as melhores do mundo na defesa do espaço aéreo nacional, mas atacar outra nação é praticamente impossível", disse Kazuhisa Ogawa, um analista militar japonês. "O Japão não tem experiência, estratégia ou poder de fogo para um ataque ofensivo", continuou Ogawa. "Seria suicídio". Frente diplomática Na frente diplomática, representantes dos Estados Unidos pediram que seus pares chineses assumam uma posição mais dura com a Coréia do Norte com o objetivo de convencer Pyongyang a voltar para as negociações multilaterais sobre o programa nuclear norte-coreano. O enviado nuclear dos EUA, Christopher Hill, está na região para coordenar as estratégias contra Pyongyang. Segundo ele, Washington trabalha junto com China e Rússia para estabelecer uma aproximação em comum. A China também está ativa na frente diplomática. Nesta segunda-feira, o negociador chefe nuclear chinês, Wu Dawei, e o vice-premier, Hu Liangyu, chegaram a Pyongyang para uma visita de seis dias. Pesquisa Uma pesquisa nesta segunda-feira revelou que quatro em cada cinco japoneses sentiram-se ameaçados pelos testes realizados pela Coréia do Norte na semana passada. Cerca de 82% dos entrevistados disseram que se sentiam tanto "temerosos" como "parcialmente temerosos" em relação à séria de mísseis lançados por Pyongyang no mar do Japão no último dia 5. Apenas 14% disseram ter pouco ou nenhum medo em relação aos testes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.