O governo japonês deve derrubar na terça-feira uma proibição que impede suas forças militares de combater no exterior desde a Segunda Guerra Mundial, uma grande mudança em relação ao pacifismo pós-guerra e uma vitória política para o primeiro-ministro, Shinzo Abe, que liderou a iniciativa, apesar de alguma oposição da opinião pública. O movimento, visto por alguns como a maior mudança na política de defesa desde que o Japão formou as suas forças armadas do pós-guerra, em 1954, deve suspender a proibição de exercício da "autodefesa coletiva" ou de ajudar um país amigo sob ataque. O plano também prevê o alívio da limitação sobre as atividades em missões de manutenção de paz conduzidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e incidentes que ficam aquém de uma guerra em grande escala, de acordo com um projeto de resolução. Há muito limitado pela Constituição pacifista pós-guerra, o Exército japonês ficará mais alinhado com as Forças Armadas de outras nações avançadas em termos de opções de ação, embora o governo provavelmente teria cautela ao enviar tropas para participar de operações multilaterais, tais como a invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003. "É uma mudança dimensional", disse o ex-diplomata japonês Kunihiko Miyake. "Temos vivido no mundo da segunda dimensão, agora estamos entrando em uma terceira dimensão - que é o padrão global." Abe tem defendido a mudança desde que tomou posse, há 18 meses, apesar da desconfiança entre muitos eleitores japoneses preocupados com o envolvimento em guerras estrangeiras e irritados com o que alguns veem como uma remoção do Artigo 9 da Constituição que renuncia à guerra. Um grupo de vários milhares de manifestantes, incluindo estudantes e pensionistas, marchou até a frente do gabinete do primeiro-ministro nesta segunda-feira carregando faixas e gritando: "Eu não quero ver os nossos filhos e soldados morrerem" e "proteja a Constituição". A mudança provavelmente também irritará uma China cada vez mais assertiva, cujos laços com o Japão estão desgastados devido a uma disputa marítima, à desconfiança e ao passado de agressão militar do Japão. Será, no entanto, bem-recebida por Washington, que desde há muito tempo tem defendido que Tóquio se torne um parceiro mais igual na sua aliança. Os conservadores dizem que o Artigo 9 da Constituição tem restringido excessivamente a capacidade do Japão de se defender e que uma mudança no equilíbrio de poder regional, incluindo uma ascensão da China, significa que as políticas de segurança do Japão devem ser mais flexíveis. (Reportagem adicional de Nobuhiro Kubo)