Japão inicia instalação de escudo antimísseis

Escudos de defesa foram enviados pelos EUA; prioridade de Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, é reforçar alianças com norte-americanos

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Por Agencia Estado
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As primeiras peças do sistema antimísseis que o Japão espera montar no final de 2006 chegaram neste sábado à ilha de Okinawa, no extremo sul do arquipélago japonês, em meio à tensão reinante pela ameaça nuclear norte-coreana. A rapidez com que os EUA enviaram a primeira remessa de componentes do escudo de defesa contra mísseis terra-ar é sinal, segundo os analistas, da preocupação que existe em Tóquio após os recentes testes militares que a Coréia do Norte realizou. Num teste, o regime comunista de Kim Jong-il lançou em 5 de julho uma série de mísseis sobre as águas internacionais do Mar do Japão, o que provocou uma onda de reprovação na comunidade internacional. Um desses projéteis era um Taepodong-2, de longa distância com capacidade para alcançar a costa oeste americana. O material para a construção do sistema interceptor de mísseis Patriot Advanced Capability-3, que blindaria os céus do Japão contra um possível ataque norte-coreano, chegou na manhã deste sábado a um porto militar de Naha, a capital de Okinawa, em um cargueiro, segundo um porta-voz militar americano. Manifestações Durante a operação de descarga, um grupo de manifestantes gritou palavras de ordem contra a presença das Forças Armadas americanas no país e a construção do sistema antimísseis. A população de Okinawa suporta a pressão que representa a presença de 44.950 soldados em solo japonês. Dois terços deste destacamento se alojam neste pequeno arquipélago estrategicamente situado no Mar Oriental da China, a poucos quilômetros de Taiwan. O posicionamento deste dispositivo de defesa implica também a chegada de outros 600 soldados, que viajarão com cerca de 900 familiares, o que contribuiu para irritar ainda mais os ilhéus que se sentem deixados de lado por seu Governo na tomada de decisões. As forças militares encarregadas do desembarque dos componentes esperam poder transportá-los em caminhões pela estrada 58, até a base militar de Kadena, onde serão montados. Espera-se que o resto do material continue chegando durante as próximas semanas, com o objetivo de que o sistema PAC-3 possa estar parcialmente operando no fim de dezembro, e de maneira completa, em março de 2007 Esta será a primeira vez que os EUA posicionarão no Japão mísseis terra-ar destinados a defender o país e as forças americanas ali destacadas. Projeto O projeto nasceu em 1998, depois que Coréia do Norte lançou um míssil de longo alcance que sobrevoou o território japonês e caiu em águas do Pacífico. Os mísseis do sistema PAC-3 são projetados para interceptar no ar outros projéteis na última fase de sua trajetória, quando já retornaram à atmosfera e desceram a altitudes de aproximadamente 12 quilômetros. O PAC-3 complementará o Standard Missile-3 (SM-3), que seria instalado em 2008 em navios americanos e japoneses dotados de um sistema de perseguição e captação Aegis, com a missão de interceptar mísseis ainda fora da atmosfera. Os testes norte-coreanos com mísseis feitos em julho passado, somados aos rumores de que Pyongyang poderia estar preparando um teste nuclear subterrâneo, em meio à estagnação desde novembro das negociações sobre o desmantelamento do programa de armas nucleares da Coréia do Norte, colocaram o Japão em alerta. Constituição O recém-eleito primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, deixou claro esta semana que uma de suas prioridades é a reforma da Constituição para que o país possa contar com um Exército convencional e, assim, reforçar sua aliança de segurança com os EUA. No mês passado, a Agência de Defesa japonesa (que tem status de ministério) afirmou que planeja pedir um aumento de 1,5% de seu Orçamento para 2007, apesar da proposta do Governo de cortar despesas em todos os ministérios para combater o grande déficit fiscal do país. Segundo o jornal Nihon Keizai, dos 4,86 trilhões de ienes (US$ 40,840 bilhões) que a Agência de Defesa estuda solicitar, 219 milhões (US$ 1,8 milhão) serão para o escudo antimísseis, o que representa um aumento de 50% nestes recursos em relação ao orçamento anterior.

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