29 de junho de 2012 | 03h07
Revoltado com um esquema que desviava do tesouro da Grã-Bretanha até 168 milhões de libras (quase R$ 545 milhões) por ano em impostos, com o auxílio de uma empresa legal que funciona na Ilha de Jersey - paraíso fiscal que tem status de "território dependente" da coroa britânica -, o premiê David Cameron prometeu combater a evasão de divisas, na semana passada.
Dias depois da declaração do chefe de governo, alguns dos principais políticos da ilha localizada no Canal da Mancha pediram que a independência local começasse a ser preparada. "Parece-me que estamos sendo prejudicados. Isso não me parece justo. Agora o dever dos políticos de Jersey é tentar explicar o que a ilha está fazendo, em vez de aceitar passivamente (as determinações britânicas)", declarou o senador local, Philip Bailhache, ao jornal britânico The Guardian.
Bailhache também é juiz e, em 2011, multou Paulo Maluf em 300 mil libras em meio a um processo que o político brasileiro enfrenta em Jersey. "A ilha deve estar preparada para defender seus interesses e pronta para tornar-se independente, se isso for necessário", disse Bailhache.
Bailhache declarou ao Guardian que o desgaste das relações entre Londres e a ilha, nos últimos cinco anos, deixou "muito claro" que os interesses de Jersey e de Londres nem sempre estão alinhados.
"Espero que a relação constitucional com a Grã-Bretanha continue. Mas, se concluirmos que nosso interesse reside em sermos independentes, não devemos enterrar a cabeça na areia e dizer que não faremos isso."
Na edição de ontem, porém, o diário britânico publicou um artigo no qual o jornalista Nicholas Shaxson qualifica de "blefe" a declaração do político de Jersey. "Bailhache quer apenas aliviar a pressão sobre uma jurisdição flagrada facilitando esquemas de sonegação abusivos", diz.
Conhecido como K2, o esquema que provocou a indignação de Cameron envolvia mais de mil pessoas. Os participantes do golpe "se demitem" das empresas originais e são recontratados por offshores, que passam a pagar salários bem menores e repassam aos "funcionários" gordos "empréstimos", sobre os quais recaem menos impostos. / AFP
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