Novas fronteiras.
Assentamento de colonos judeus em Jerusalém Oriental: batalha jurídica
Incomodado com o barulho, Muhammad Al-Kurd, de 12 anos, decidiu mudar sua cama de lugar. O som não vinha da rua, no Vale de Sheik Jarrah, em Jerusalém Oriental, mas de dentro de sua casa. No quarto ao lado, mora um grupo de colonos judeus que há dois anos ganhou na Justiça o direito de propriedade sobre parte dos cômodos do imóvel. Hoje, metade da casa é palestina, metade é israelense. Embora vivam sob o mesmo teto, separados por uma parede, os vizinhos não se falam - e rotineiramente trocam provocações e tapas. A casa dos Kurds é uma espécie de microcosmo do braço de ferro que cada vez mais domina Jerusalém. Diante de um possível acordo que transforme a cidade em capitais de dois Estados, judeus e árabes passaram a disputar regiões estratégicas para redesenhar fronteiras políticas e demográficas de Jerusalém Oriental. Até 2008, Sheik Jarrah era habitada por 28 famílias palestinas "assentadas" nos anos 50. Há dois anos, porém, organizações de colonos israelenses apresentaram à Justiça títulos de propriedades na região que datam dos períodos em que os impérios otomano e, em seguida, britânico administravam o que hoje é Israel. A Corte reconheceu os documentos e ordenou o despejo de três famílias.