Boa parte dos líderes árabes vê Netanyahu com suspeita. O sr. o considera um parceiro efetivo nas negociações?
Não quero fazer a paz com esse ou aquele israelense, mas com todos. Se ele quiser essa parceria, a primeira coisa que deve fazer é conter os assentamentos. Ele pode fazer isso e alcançamos um acordo em um ano. Mas se ele disser que não pode parar os assentamentos, terá trancado a porta da negociação na minha cara. Não poderá haver diálogo.
Dentro de um ano teremos dois Estados, com duas Jerusaléns.
Mas por que deveríamos dividir Jerusalém? Podemos tê-la como uma cidade aberta, capital de dois Estados. Não vou revelar o conteúdo das negociações, mas posso dizer que estamos em um estágio muito avançado. Por isso espero que o sr. Netanyahu entenda que podemos tomar as decisões agora e encerrar as negociações. Sim, podemos ter um acordo em um ano. Ou, se Netanyahu optar pelos assentamentos, podemos ter um fracasso em duas semanas.
E quais seriam, para a AP, as consequências desse fracasso?
O fracasso não pode ser uma opção. Do lado palestino, já são 19 anos reconhecendo Israel e respeitando o princípio de dois Estados. Eles não nos reconheceram como Estado. Se essas negociações fracassarem, que Deus nos ajude. Não estou ameaçando ninguém, nem estou em posição de ameaçar. Mas é a natureza das coisas. Portanto, se o diálogo vier abaixo, todos nós iremos juntos rumo ao caos, a anarquia e ao extremismo.
Se Israel exigir, por razões de segurança, uma presença estrangeira na Cisjordânia, seja a ONU ou a Otan, a AP aceitará?
Certamente aceitaremos a presença de uma terceira parte se isso for preciso para um acordo definitivo.
A Casa Branca será, novamente, a única mediadora das negociações entre palestinos e israelenses. Por que não fazer um encontro mais amplo, como o ocorrido em Annapolis, em 2007, com vários países?
Nós pedimos aos americanos que convidassem países como Brasil, China e Catar para o diálogo, como em Annapolis. Mas eles não quiseram. Preferiram manter apenas a Jordânia, o Egito e (o ex-premiê britânico) Tony Blair (representante do Quarteto).
Que papel o Brasil pode desempenhar no conflito palestino-israelense?
Acho que pode ser um ator relevante. O Brasil é um país que apoia a paz, a solução de dois Estados e tem uma ótima relação com todos os lados.