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Jogos são triunfo para Putin, mas não para o restante da Rússia

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Steven Lee Myers / NYT

Os Jogos de Sochi são um momento de coroação para o presidente Vladimir Putin uma oportunidade de demonstrar novamente sua maestria das alavancas globais do poder, mas o mesmo não pode ser dito do país que ele governa. Com a economia russa tão dependente dos recursos naturais, perdendo velocidade com a queda do preço das commodities e com o rareamento dos investimentos estrangeiros, o Kremlin indica cortes em investimentos.

No ano passado, o crescimento perdeu força e foi de apenas 1,3%, o mais baixo em dez anos exceto pela marca alcançada durante a recessão global em 2009, enquanto outras grandes economias apresentavam sinais de recuperação. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico pediu recentemente mudanças urgentes nas políticas trabalhistas, na produtividade e na burocracia legal e governamental. "Com a estagnação do preço da energia e a plena utilização da mão de obra e do capital, o crescimento está recuando para taxas anteriores à crise. Tornar a economia mais forte, mais equilibrada e menos dependente dos aluguéis da extração de recursos naturais do país é um desafio chave", diz a organização.

Os cerca de US$ 50 bilhões gastos com o luxo de Sochi estão se convertendo num risco político, mesmo num sistema com pouco espaço para o debate público a respeito da adequação dos gastos do governo. "Trata-se de uma oportunidade perdida", disse Aleksei A. Navalni, cuja Fundação para a Luta Contra a Corrupção publicou recentemente um site com irregularidades na construção das instalações olímpicas. "A Rússia poderia ter feito muita coisa com esse dinheiro. Poderíamos ter inaugurado uma nova industrialização nos moldes daquela que ocorreu nos anos de Stalin", disse. "Temos apenas um pequeno czar que optou por desperdiçar dinheiro por aí em algum tipo de loucura."

A Rússia não está à beira do colapso. E o governo de Putin não deve enfrentar nenhum desafio no futuro próximo. Impulsionada pela cobertura extremamente positiva mostrada na televisão estatal, a popularidade de Putin continua tão alta quanto no momento em que ele assumiu o cargo. Mas a organização dos Jogos parece ter perdido parte do brilho que os representantes do governo esperavam trazer para a Rússia dentro do país e no exterior.

A Olimpíada trouxe nova atenção internacional para as políticas duras que o governo Putin buscou implementar desde que ele retornou à presidência em 2012 depois de passar quatro anos como primeiro-ministro, levando a pedidos por protestos e até boicotes. A lista é extensa: o apoio russo ao presidente sírio Bashar Assad; as tentativas de manter a Ucrânia fora da União Europeia; a perseguição dos opositores políticos, reais e imaginários; as restrições contra a adoção por estrangeiros; a aprovação de uma lei no ano passado proibindo a distribuição de "propaganda" gay a crianças; e a recente campanha para sufocar o único canal de TV jornalístico e independente sob o pretexto de este ter questionado a vitória da União Soviética após o Sítio de Leningrado, que chegou ao fim 70 anos atrás. Para muitos dos funcionários do governo, as críticas aos Jogos trazem a marca da hostilidade ocidental em relação à Rússia, com o objetivo de negar ao país seu lugar de direito na ordem mundial. Trata-se de um sentimento que molda a política externa russa, especialmente em relação aos EUA.

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Putin presidiu os preparativos finais imune às críticas, que iam de piadas triviais sobre o estado da indústria hoteleira russa e o excesso de cães de rua, até acusações de grupos como Human Rights Watch e Anistia Internacional, dizendo que dois ambientalistas detidos esta semana são os primeiros prisioneiros de consciência da Olimpíada. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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