QUITO - O jornal equatoriano Hoy e a companhia Edimpres, dona do diário e responsável pela impressão, anunciaram, de acordo com o El País, o encerramento das atividades na terça-feira 26, após uma "asfixia econômica" que o governo do presidente Rafael Correa teria imposto ao jornal.
Em um dos últimos editoriais, o diretor Jaime Mantilla afirmou que a "asfixia" foi resultado do boicote publicitário imposto pelo governo, do cancelamento de contratos para impressão de textos escolares e da restrição de procurar investidores nacionais determinada pela Lei de Comunicação.
Com o fechamento, a revista Plan V ofereceu publicar o conteúdo do Hoy em seu portal. Plan V é um projeto digital que substituiu o semanário Vanguardia, fechado em 2013 também por problemas econômicos e pressão do governo.
A Superintendência de Empresas, instituição estatal responsável pelo controle das empresas comerciais, determinou, segundo o El País, o fechamento de outras 700 empresas porque registraram perdas maiores a 50% de seu capital nos últimos dois anos.
O jornal El Telégrafo afirmou em sua edição de quarta-feira que o Hoy registrou em 2013 perdas de US$ 4,2 milhões diante do capital de US$ 4,6 milhões.
Uma equipe designada pela Superintendência chegou ao Hoy na terça para fazer o inventário dos bens e ordenou que centenas de funcionários suspendessem os trabalhos. Os redatores deixaram o local e o site do jornal não foi mais atualizado. A última notícia destacada foi uma entrevista do prefeito de Quito pelos 100 dias cumpridos no cargo.
O Hoy já havia deixado de imprimir a edição diária desde 30 de junho. Antigos colaboradores do jornal, como ex-editor Jorge Imbaquingo, ficaram meses sem cobrar o pagamento e continuavam escrevendo porque "havia gente muito comprometida". Imbaquingo lembra que em 2011, a empresa sofreu a primeira derrota e teve de fechar a revista Blanco y Negro, que durante mais de 20 anos denunciou casos de corrupção do governo.
"Morrer fazendo jornalismo não é morrer", escreveu o editor do Hoy Iván Flores em sua conta no Twitter, agradecendo à "redação do Titanic" por se manter firme no trabalho até o final.
O jornal tentou evitar o fechamento. Depois de suspender a impressão diária, passou a publicar uma edição semanal com temas mais elaborados e investiu na edição digital. "Procuramos novas linguagens e outros formatos", disse Flores na ocasião do lançamento do novo portal.
Contudo, a Secretaria de Informação e Comunicação aplicou uma sanção ao jornal pela não publicação da tiragem de 17 edições, entre 11 de maio e 6 de junho. A multa de US$ 57.800 foi entregue no dia que a nova edição semanal era publicada.