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Jovem apontado como cúmplice de atentado se entrega à polícia francesa

Hamyd Mourad, de 18 anos, teria sido recrutado por Said e Chérif Kouachi, que chegou a ser detido por participar de célula extremista

Por Andrei Netto , de Paris e Correspondente
Atualização:

PARIS - O mais jovem dos três suspeitos de participar do atentado contra o jornal Charlie Hebdo, Hamyd Mourad, de 18 anos, se entregou ontem à noite à polícia perto da localidade de Charleville-Mézières, perto da fronteira com a Bélgica, revelou à agência AFPuma fonte ligada à investigação.

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Os outros suspeitos são dois irmãos, os franceses Said Kouachi, de 34 anos, e Chérif Kouachi, de 32, ex-membros de uma rede terrorista que enviava jihadistas europeus para treinamento no Iraque. Mourad teria sido recrutado pelos dois para o atentado. 

Imediatamente após o ataque, a polícia iniciou uma caçada aos terroristas. Segundo fontes do governo, investigadores encontraram o rastro dos atiradores por meio da carteira de identidade que um deles teria esquecido dentro do carro usado na fuga. A mobilização sem precedentes foi determinada pelo Ministério do Interior. Em sua primeira entrevista coletiva, o procurador de Paris, François Molins, responsável pela investigação, confirmou as circunstâncias da barbárie. 

Segundo ele, por volta de 10 horas (7 horas em Brasília), os terroristas chegaram ao número 6 da Rua Nicolas-Appert, prédio onde ficam os arquivos do jornal. “É aqui o Charlie Hebdo?”, teria gritado um deles, de acordo com testemunhas. Ao perceber o erro, eles saíram do edifício e se dirigiram para o número 10 na mesma rua, onde começaria a chacina.

Polícia informa que Chérif e Said Kouachi são procurados pelo atentado contra o jornal de humor francês Charlie Hebdo Foto: Reprodução

 Logo na entrada, mataram Frédéric Boisseau, de 42 anos, funcionário da Sodexo que trabalhava no prédio. Em seguida, subiram para o segundo andar, onde fica a redação do Charlie Hebdo. Segundo testemunhas, eram 11h20 da manhã quando eles entraram gritando “Allahu Akbar” (Deus é maior, em árabe). Dispararam contra Wolinski e Cabu. Franck Brinsolaro, policial que fazia a segurança de Charb, não teve tempo de reagir.

Às 11h30, a polícia recebeu a primeira chamada e envia vários agentes ao local. Antes, os terroristas fugiram em um Citroën C3 preto. Após matarem mais um, o policial Ahmed Merabet, abatido na rua, eles se dirigiram para o norte de Paris.

Enquanto caçava os atiradores, a polícia revistou pelo menos dois apartamentos em Paris deflagrou uma grande operação policial na cidade de Charleville-Mézières e em Reims – onde vivia Mourad. Cerca de 800 agentes reforçaram a segurança da capital. A polícia emitiu um alerta para forças de segurança no país inteiro com dados a respeito dos três suspeitos. 

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As primeiras horas de investigação também se concentraram no carro usado pelos terroristas. Citroën C3 foi abandonado em uma rua no norte da cidade após uma colisão. Na pressa, segundo fontes policiais, um deles teria deixado a carteira de identidade, o que teria facilitado a identificação do grupo. Na Síria, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) comemorou o ataque, mas não reivindicou sua autoria. 

Nos anos 2000, Chérif fez parte de uma rede terrorista conhecida como Buttes-Chaumont, referência a um bairro de Paris. Em 2005, eles chegaram a ser presos pela polícia da França. 

A rede era comandada por Farid Benyettou, cunhado de outro islamista, Youcef Zemmouri. Ambos teriam sido formados por um ideólogo salafista chamado Mohamed Karimi, líder do Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC), que operou até 2000. O grupo de sete integrantes foi levado a julgamento em 2008 e Chérif foi libertado por já ter cumprido 18 meses de prisão. 

Em seus depoimentos, os jihadistas afirmaram que desejavam partir para Arábia Saudita, Síria ou Iraque, onde estudariam e receberiam formação militar para “combater as forças americanas”. Mourad seria um morador de rua recrutado em Reims.

O cartunista holandês Bernard Holtrop, o Willem, que trabalha no Charlie Hebdo e no Libération, estava em um trem de Lorient a Paris na hora do ataque e recebeu a notícia por telefone. “Eu não acreditei. Nunca vou às reuniões de pauta na redação, porque não gosto. Isso salvou a minha vida”, disse Willem, que promete seguir desenhando. 

 Foto: Infográficos / Estadão
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