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Jovens da ‘era Chávez’ lideram manifestações

Como muitos, Enrique Altimari, um dos líderes dos protestos, cresceu sob o bolivarianismo

Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz
Atualização:

Camisa social, calça jeans, mochila de marca e celular de última geração dão o aviso. O líder estudantil Enrique Altimari é filho da elite venezuelana. Aluno de Direito da universidade privada Monte Ávila, de Caracas, nasceu em Maracaibo e estuda na capital. Seu pai era militante do tradicional partido Copei, um dos principais da Quarta República, e foi assessor do ex-presidente Rafael Caldeira.

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Nascido no oeste do país, é o único dos seis irmãos que ainda mora na Venezuela. Os outros foram para a Europa, Panamá e EUA em busca de oportunidades melhores.

Presidente do Diretório Central de Estudantes de sua escola, ele é um dos principais idealizadores dos protestos que se espalharam pela Venezuela há 20 dias. Altimari praticamente não tem lembranças da Venezuela antes do chavismo, sob o qual viveu por 15 de seus 22 anos, mas vê com olhos bastante críticos a Venezuela de hoje.

"O problema é que as palavras perderam o significado. Chamam de fascismo o que não é fascismo e de socialismo o que não é socialismo", diz."Chávez fez com que a Venezuela esquecesse o que havia de bom no país antes dele e criou uma narrativa como se tudo fosse ruim. Não era bem assim."

O líder estudantil afirma que a última onda de protestos começou em Táchira, quando uma aluna de uma das universidades do Estado foi roubada e sofreu uma tentativa de estupro. O movimento se espalhou ao ganhar mais reivindicações, como a crise econômica, a escassez de alimentos e a repressão policial.

Depois da quarta-feira, quando a Guarda Nacional Bolivariana e motoqueiros armados atacaram manifestantes em Altamira, o movimento arrefeceu. "Esse fim de semana dirá se os protestos morrerão ou não."

Altimari é bem conectado nos meios políticos venezuelanos. Uma colega de classe é filha de uma das assessoras da deputada María Corina Machado. Uma parente trabalha no gabinete de Henrique Capriles, o governador de Miranda. Ele admite que há uma coincidência de interesses entre os protestos do estudantes e a estratégia de parte da oposição de tomar as ruas contra o chavismo, mas garante que o movimento estudantil pretende manter uma distância saudável dos partidos políticos.

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"Todos os partidos nos procuram para impor sua agenda. Todos. No entanto, queremos ter uma agenda própria", afirma. "Tomamos muito cuidado para não sermos manipulados."

O estudante tem dois celulares e diz ter razões para acreditar que é monitorado pelo Sistema Bolivariano de Inteligência. Questionado sobre a possibilidade de aceitar o convite de diálogo feito pelo presidente Nicolás Maduro, ele é taxativo: "Só se for em igualdade de condições. Ele fala 10 minutos, nós falamos 10 minutos. E ele tem de libertar todos os estudantes que continuam presos."

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