Judeus alemães temem extremismo no leste do país

Focos anti-semitas lembram o momento vivido logo após 1933, depois da chegada dos nazistas ao poder, segundo presidente do Conselho Central dos Judeus no país

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O anti-semitismo e a xenofobia estão alcançando níveis perigosos na Alemanha, principalmente no território da antiga República Democrática Alemã (RDA), disse nesta terça-feira a presidente do Conselho Central dos Judeus no país, Charlotte Knobloch. Em alguns lugares, os focos anti-semitas lembram, inclusive, o momento vivido logo após 1933, depois da chegada dos nazistas ao poder, afirmou Knobloch em entrevista coletiva com representantes de outras organizações que lutam contra a xenofobia. Alguns números divulgados recentemente aumentaram a preocupação com o aumento do neonazismo na Alemanha. Segundo esses dados, os delitos de motivação extremista aumentaram em 20%. Em um deles foram queimados exemplares do livro Diário de Anne Frank em Pretzien, no leste da Alemanha. O ex-porta-voz do governo Uwe-Carsten Heye sugeriu que esses dados provavelmente tinham sido ocultados para não perturbar a Copa do Mundo, que foi sediada este ano na Alemanha. Tanto Knobloch quanto o ex-diretor dos Arquivos da Stasi Joachim Gauck falaram sobre quais seriam os motivos que fazem com que o problema da extrema direita seja pior no leste do país. Segundo Knobloch, na antiga RDA (Alemanha Oriental), que desde sua fundação se definiu como um estado antifascista, não houve um confronto que envolvesse o nacional-socialismo. "Na RDA, o povo achava que não havia nazistas e que todos tinham ido para o oeste ou estavam mortos. Era isso que era transmitido às pessoas jovens", disse Knobloch. Segundo a presidente do Conselho Central dos Judeus, o Holocausto era abordado superficialmente nas escolas, que se concentravam em ressaltar a perseguição aos comunistas. Gauck, que é da RDA, concorda em que parte do problema da extrema direita no leste da Alemanha tem a ver com o legado da ditadura Comunista. "Na ditadura, nunca houve uma busca da verdade por meio da discussão, mas a imposição de verdades simplificadas. A aceitação dessas verdades simplificadas marcou as pessoas", disse Gauck, ao explicar por que alguns setores do leste do país são receptíveis aos movimentos de extrema direita. Heye falou também que a falta de presença de partidos democráticos em algumas regiões foi aproveitada pelo Partido Nacional-Democrata Alemão (NPD), de extrema direita, para aumentar sua faixa de seguidores no leste do país. O NPD conseguiu entrar no Parlamento regional da Saxônia e de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, ambos estados federados do leste do país, enquanto a União do Povo Alemão (DVU) também de extrema direita, tem representação parlamentar em Brandemburgo, também no leste, e em Bremen, no oeste do país.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.