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Judeus iranianos não pensam em deixar o país

"Anti-semitismo não é um fenômeno oriental, islâmico ou iraniano. O anti-semitismo é um fenômeno europeu", diz judeu iraniano, defendendo que os judeus no Irã - mesmo nos piores momentos - nunca sofreram como na Europa

Por Agencia Estado
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Apesar da inimizade entre Israel e Irã, a república islâmica ainda abriga a maior comunidade judaica do Oriente Médio fora de Israel. Cerca de 25 mil judeus vivem no Irã e estão determinados a permanecer lá apesar das pressões, orgulhando-se tanto de sua cultura iraniana quanto das raízes judaicas. Em todo o país, há sinagogas onde os judeus praticam, discretamente, sua religião. "Por causa de nossa longa história aqui, somos tolerados", diz o líder comunitário judeu Unees Hammami, que organiza as rezas. Ele diz que o pai da Revolução Islâmica no Irã, o Aiatolá Khomeini, reconhecia os judeus como uma minoria religiosa que devia ser protegida. Como resultado dessa política, os judeus hoje têm um representante no parlamento iraniano. "O Aiatolá Khomeini fazia uma distinção entre judeus e sionistas, e nos apoiava", diz Hammami. "Sentimento anti-semita" Nas sinagogas iranianas, a maior parte dos comunicados é feita em persa, já que muitos dos judeus no país não falam hebraico fluentemente. Há judeus vivendo na Pérsia há cerca de 3 mil anos - muitos deles descendentes de escravos da Babilônia. Ao longo dos séculos, houve limpezas étnicas, massacres e conversões forçadas ao Islã, assim como períodos de coexistência pacífica. Nos dias de hoje, os sentimentos anti-semitas, em sua maioria, são provocados pela mídia. Unees Hammami diz que a televisão estatal confunde judaísmo e sionismo e acaba fazendo com que "pessoas comuns achem que os judeus apóiam qualquer ação de Israel". Durante o conflito no Líbano, o jornal semanal conservador Yalesarat publicou duas fotos de sinagogas na primeira página mostrando pessoas com bandeiras de Israel, celebrando a data da independência israelense. O jornal teria falsamente afirmado que as imagens retratavam judeus no Irã, o que acabou provocando dois ataques contra sinagogas no país. O incidente foi controlado pela polícia iraniana, que divulgou que a notícia publicada era falsa. Negação do Holocausto A preocupação da comunidade internacional com o futuro dos judeus no Irã aumentou depois da eleição do presidente ultra-conservador Mahmoud Ahmadinejad. Ahmadinejad já usou repetidamente expressões como "varrer Israel do mapa", além de ter afirmado que o Holocausto não aconteceu. Maurice Mohtamed, parlamentar judeu no Irã, condenou abertamente os comentários do presidente - o que mostra que há algum espaço no país para que judeus expressem suas opiniões. "É lamentável ver uma tragédia terrível como o Holocausto ser negada...foi um sério insulto a judeus de todo o mundo", afirmou ele. Apesar da controvérsia causada pelas palavras de Ahmadinejad, seu governo recentemente doou dinheiro ao Hospital Judaico de Teerã. Atualmente, muitos dos pacientes e funcionários são muçulmanos, mas o diretor Ciamak Morsathegh é judeu. "O anti-semitismo não é um fenômeno oriental, não é um fenômeno islâmico ou iraniano. O anti-semitismo é um fenômeno europeu", afirma ele, defendendo que os judeus no Irã - mesmo nos piores momentos - nunca sofreram como na Europa. Laços de família Mas os judeus iranianos enfrentam uma série de problemas no país. Um deles é legal - se um integrante de uma família judia se converte ao Islã, ele tem direito a herdar todos os bens da família. Além disso, judeus não podem se tornar oficiais do Exército e os diretores das escolas judaicas em Teerã são todos muçulmanos, apesar de não haver nenhuma lei que exija isso. Uma das maiores fragilidades da comunidade judaica no Irã são seus laços com Israel - onde muitos judeus iranianos têm parentes. Há sete anos, um grupo de judeus da cidade de Shiraz, no sul do país, foi detido e acusado de espionar para Israel, mas eles acabaram sendo libertados. Hoje, muitos judeus iranianos viajam livremente para Israel. "O que eles dizem no exterior é mentira - vivemos de forma confortável no Irã. Se você não tem envolvimento político e não os prejudica, eles também não prejudicam você", afirma o açougueiro judeu Hersel Gabriel. Sua freguesa, a dona de casa Giti, concorda, dizendo conversar freqüentemente com seus dois filhos que vivem em Tel-Aviv por telefone, além de visitá-los esporadicamente. "Não é um problema ir e vir. Eu fui para Israel uma vez pela Turquia e outra pelo Chipre e não houve problema algum", disse ela. "Nos últimos cinco anos, o governo tem permitido que judeus iranianos visitem Israel livremente e encontrem suas famílias, sem que tenham nenhum problema para voltar ao Irã", diz Maurice Mohtamed. O êxodo de judeus do Irã parece ter diminuído bastante. A primeira onda foi nos anos 50 e a segunda, durante a Revolução Islâmica. Os judeus que escolheram permanecer no Irã aparentam ter tomado uma decisão firme. "Somos iranianos e vivemos no Irã há mais de 3 mil anos", diz o diretor do hospital judaico Ciamak Morsathegh. "Não vou deixar o país. Eu ficarei no Irã sob quaisquer condições", afirma ele. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

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