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Juiz deposto diz que é 'hora do sacrifício' no Paquistão

Preso, ex-presidente da Suprema Corte pede que advogados saiam às ruas contra estado de emergência

Por Associated Press e Reuters
Atualização:

O presidente deposto da Suprema Corte do Paquistão, Iftikhar Muhammad Chaudhry, pediu nesta terça-feira, 6, que os advogados do país desafiem a tropa de choque da polícia e mantenham os protestos contra o estado de emergência imposto pelo presidente Pervez Musharraf. Paralelamente, o governo discutia a possibilidade de adiar por três meses as eleições parlamentares previstas para janeiro. Veja também: Bhutto vai à capital discutir emergência Advogados voltam às ruas contra Musharraf Lei marcial realça fracasso de Bush, diz 'NYT' "É a hora do sacrifício", disse Chaudhry a advogados reunidos em Islamabad, utilizando um telefone celular. Visto como uma das mais proeminentes figuras de oposição a Musharraf, o ex-presidente da Suprema Corte foi deposto e colocado sob prisão domiciliar pelo presidente no último sábado, após o cancelamento da Constituição e a imposição do estado de emergência. A manobra foi justificada pelo presidente como uma resposta ao acirramento da violência nas regiões tribais do norte do país e da "interferência" do Judiciário no Executivo. De fato, Musharraf tomou a decisão dias antes de a Suprema Corte julgar a validade de sua reeleição indireta como presidente, em outubro, sob a alegação de que ele deveria ter abandonado o comando do Exército. "Não sintam medo. Deus irá nos ajudar e o dia em que a Constituição reinará suprema e não haverá ditadura chegará", disse o magistrado. Mais tarde nesta terça-feira, na cidade de Multan, a polícia barrou mais de mil advogados que deixavam a corte distrital para realizar uma manifestação contra a proibição de protestos imposta pelo governo. Pelo menos seis pessoas ficaram feridas, algumas com cortes na cabeça. Os protestos também foram violentos na cidade de Gujranwala. Os embates marcam o segundo dia de distúrbios nas ruas do Paquistão desde que Musharraf - que tomou o poder por meio de um golpe em 1999 - declarou estado de emergência no último sábado. Com a manobra, o presidente depôs juízes independentes, censurou a imprensa e ampliou a autoridade da polícia para combater dissidentes. Milhares de pessoas foram presas após a medida. Pressão internacional O presidente dos EUA, George W. Bush, que valoriza Musharraf como aliado na luta contra a Al-Qaeda e o Taleban, pediu ao general na segunda-feira que suspenda o estado de emergência imposto no sábado, realize eleições e renuncie ao comando do Exército. Após a pressão, o primeiro-ministro Shaukat Aziz chegou a dizer ainda na segunda-feira que as eleições de 2008 serão realizadas, algo que Musharraf ainda não confirmou. No entanto, a ex-primeira ministra e líder oposicionista Benazir Bhutto afirmou nesta terça-feira que o governo já decidiu postergar as eleições parlamentares por um ou dois anos. "Eles não anunciaram desta forma, mas eu sei dos bastidores", disse Bhutto, que está na capital Islamabad para discutir com outros líderes oposicionistas uma saída para a crise. A ex-premiê retornou ao Paquistão no mês passado, após oito anos no exílio, como parte de um suposto acordo para dividir o poder com o presidente. Acusada de corrupção durante seu governo, ela foi anistiada em troca de apoio político à permanência de Musharraf na presidência (o presidente, por sua vez, havia prometido deixar a chefia do Exército caso fosse reeleito). Após demitir juízes "rebeldes", Musharraf vem preenchendo a Corte Suprema com figuras mais simpáticas ao governo. Na terça-feira, outros quatro tomaram posse, elevando o total de juízes a 9 - bem aquém do total original de 17.

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