Juiz do Supremo acena com anistia

Governo de facto dá primeiros sinais de que pode fazer concessões a Zelaya para superação de impasse político

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Por Gustavo Chacra e TEGUCIGALPA
Atualização:

Após mais de uma semana de posições pouco flexíveis, o governo de facto de Honduras começou ontem a dar sinais de que pode ceder para que seja encontrada uma saída para a crise que paralisa o país desde a deposição de Manuel Zelaya, dez dias atrás. A Suprema Corte indicou que uma anistia poderia abrir caminho para o retorno do presidente deposto, enquanto o presidente designado, Roberto Micheletti, defendeu a negociação capitaneada pelo líder costa-riquenho, Oscar Arias (mais informações na página 14).   Veja também: Zelaya e líder de facto reúnem-se amanhã sob mediação da Costa Rica Em Moscou, Obama reitera apoio a deposto Arias, o mediador, ganhou o Nobel da Paz nos anos 80 Chanceler pede desculpas por comentário racista Ouça o comentário do enviado Gustavo Chacra sobre a crise   Entrevista dos golspitas: realismo fantástico Em entrevista ao diário hondurenho El Dia de Hoy, o presidente da Suprema Corte, Jorge Rivera Avilez, afirmou que uma possibilidade para superar o impasse seria "uma anistia política tanto para Zelaya quanto para outros atores envolvidos" na crise. A informação foi confirmada posteriormente por outras autoridades de Justiça em Tegucigalpa. Essa anistia seria apenas para crimes políticos. "Nossas resoluções podem ser aplicadas apenas em termos políticos, porque, no que corresponde a delitos de índole geral ou crimes comuns, não existe anistia", acrescentou Rivera. Zelaya recebeu ordem de prisão por 18 crimes, incluindo corrupção e traição à pátria. Caso volte, mesmo anistiado, ele ainda correrá o risco de ser detido. Segundo insistiu ontem o procurador-geral de Honduras, Luis Alberto Rubi, Zelaya será preso assim que pisar no território hondurenho. Para ser implementada, a anistia teria de ser aprovada pelo Congresso. Ontem, os deputados se reuniram, mas não debateram essa possibilidade oficialmente, segundo informaram parlamentares hondurenhos. Aos poucos, o tom agressivo contra Zelaya em Honduras começa a diminuir. Na semana passada, do presidente designado à Suprema Corte, passando pela imprensa e deputados, era comum escutar que Zelaya era "um criminoso e não retornaria de forma alguma para Honduras". Desde segunda-feira, um dia depois da fracassada tentativa de retorno do presidente deposto, todos começaram a falar mais em diálogo e mesmo os jornais mais contrários a Zelaya reduziram os ataques. O Congresso pode não falar abertamente em anistia, como a Suprema Corte, mas deputados, candidatos presidenciais e mesmo Micheletti aceitam que as eleições presidenciais sejam antecipadas para que a crise possa ser superada. Inicialmente, a votação está marcada para novembro. Em Tegucigalpa, a população dividiu-se em duas manifestações. Uma delas a favor de Zelaya, que contou com a mulher dele, Xiomara de Zelaya, que fez um discurso defendendo o retorno do marido. A outra, organizada pelos defensores do governo de facto, reuniu-se na praça principal da cidade. O toque de recolher foi mantido, mas as autoridades reabriram o aeroporto da cidade, fechado desde domingo.

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