BUENOS AIRES - A ex-presidente argentina Cristina Kirchner foi processada, com um pedido de prisão preventiva, nesta segunda-feira, 17, em um grande caso de subornos em obras públicas conhecido como “cadernos da corrupção”, informou a mídia local. Com este, Cristina, que atualmente é senadora, passa a responder a cinco processos, mas continuará em liberdade por ter foro privilegiado.
Segundo o juiz do processo, Claudio Bonadío, a ex-presidente, de 65 anos, “é considerada chefe de uma associação ilícita”. O magistrado pediu a quebra do seu foro ao Senado e sua prisão, uma vez que na Argentina o juiz pode fazê-lo.
Além disso, congelou 4 bilhões de pesos (US$ 100 milhões) dela por esse caso de suposta corrupção nos contratos de obra pública envolvendo ex-funcionários do governo e empresários.
Há três semanas, o juiz autorizou buscas e apreensões em três residências de Kirchner, uma em Buenos Aires e duas na Patagônia, ao sul do país. Apesar de ela ter foro privilegiado, as buscas foram possíveis com a aprovação do Senado, que contou com o voto positivo da própria Cristina.
A senadora esteve duas vezes frente ao juiz Bonadío que investiga o pagamento de subornos milionários por parte dos mais importantes empresários argentinos para obter contratos de construção de obra pública entre 2003 e 2015.
A ex-presidente, que nega as acusações, havia recusado sem sucesso o juiz e o procurador Carlos Stornelli.
No mesmo dia, a Justiça lhe negou um pedido de adiamento da audiência e Kirchner será interrogada amanhã pelo juiz Sebastián Casanello, em outra causa que investiga suposta lavagem de dinheiro.
Kirchner está sendo investigada em oito casos por suposta corrupção e acobertamento a iranianos no caso do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA).
Caso a Justiça peça a remoção de seu foro, ele somente poderia ser removido com dois terços dos votos dos senadores, algo pouco provável, já que o peronismo opositor adiantou que não apoiará essa medida enquanto não houver uma condenação firme.
O juiz também processou o ex-ministro de Planejamento Federal Julio de Vido e outros ex-funcionários desse ministério, assim como vários empresários do ramo energético e da construção, entre eles Ángelo Calcaterra, primo do atual presidente Mauricio Macri.
No total, são 42 os processados entre ex-funcionários e empresários, sobre os quais também houve um embargo equivalente ao de Cristina. Apenas 12 pessoas foram eximidas do pedido de prisão preventiva.
Anotações. O caso surgiu com as anotações feitas em oito cadernos que, de acordo com a investigação judicial, pertenciam a Oscar Centeno, ex-motorista de Roberto Baratta, ex-subsecretário de Coordenação e Gestão do Ministério de Planejamento.
Os cadernos detalham endereços, números, datas, nomes e movimentos de funcionários do governo e empresários. Supostamente, as pessoas envolvidas se reuniam com regularidade para entregar ou receber bolsas cheias de milhões dólares.
O dinheiro seria proveniente de subornos em contratos públicos nos setores de construção e energia. As anotações de Centeno foram divulgadas pelo jornal La Nación. / AFP, AP