A imagem de "El Turco", como o ex-presidente Carlos Menem é conhecido popularmente, correndo por um túnel para fugir da prisão domiciliar na qual está há seis dias, está preocupando o juiz federal Jorge Urso. Por esse motivo, o juiz ordenou que se investigue se são corretas as denúncias de que a antiga chácara onde passa seus dias de detido possui túneis secretos. Menem está preso desde a quinta-feira passada por ser considerado suspeito de ter liderado uma máfia que contrabandeou 6.575 toneladas de armas à Croácia e ao Equador entre 1991 e 1995. A chácara pertenceu há 70 anos ao histórico jornalista Natalio Botana, proprietário do jornal Crítica, que nos anos 20 e 30 fez uma dura oposição aos diversos governos de plantão. Sempre perseguido pela censura e a polícia, Botana teria preparado túneis especiais para escapar, caso sua casa fosse rodeada. Os advogados de Menem afirmam que os túneis não existem: "são delírios". Mas, além dos túneis, o juiz especula retirar Menem dali por causa dos tumultos que sua presença está causando entre simpatizantes e opositores. Qualquer opção para colocar "El Jefe" (?O chefe?, como é chamado por seus subordinados) fora da prisão domiciliar está sendo considerada válida. É o caso da idéia de apelar à província natal de Menem, La Rioja, seu feudo político e o único lugar do país onde o ex-presidente ainda possui poderes dignos de um caudilho. A proposta é provocar a renúncia do atual governador de La Rioja e de toda a linha de sucessão, de forma a convocar novas eleições para o cargo. Menem, mesmo sem poder sair da chácara, seria o candidato, vencendo sem problemas. Desta forma, readquiriria imunidade política e poderia sair da prisão. Esta possibilidade poderia ser vitalícia, já que um governador em La Rioja pode ser reeleito indefinidamente. Outra possibilidade, especulada pelo advogado Mariano Cavagna Martínez, é uma eventual apelação às Cortes Internacionais de Justiça. Os analistas consideram que a defesa tentaria apresentar Menem como um "perseguido político". O juiz Urso já ordenou a investigação sobre o patrimônio dos Menem, entre eles o de seus irmãos Eduardo, Munir e Amado, e de sua filha Zulemita, para poder detectar o paradeiro de parte do pagamento do contrabando de armas: de um total de US$$ 100 milhões pagos pelo Equador e a Croácia, US$ 60 milhões se evaporaram. Simultaneamente, Maria Julia Alsogaray, a encarregada da polêmica privatização da estatal Entel, a empresa de telecomunicações, no início do governo Menem, terá que prestar depoimento nesta quinta-feira sobre fraude contra o Estado argentino e uso indevido de fundos públicos. "Mary Ju", como é chamada ironicamente, teria tido um tórrido affaire com Menem e sempre foi uma de suas protegidas preferidas. Existem denúncias de 20 casos diferentes de corrupção vinculados a ela. Nesse intervalo, "El Turco" ocupa-se fumando charutos e lendo biografias de homens célebres da história universal, com os quais sempre gostou de se comparar. No momento, está lendo "A Vida de Napoleão", de Geoffrey Ellis.