Juíza investiga ex-ditador uruguaio por crimes do regime militar

Justiça vai ouvir depoimentos de vítimas da repressão do regime

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A juíza que investiga o ex-presidente uruguaio Juan María Bordaberry por violações dos direitos humanos durante a ditadura convocou militares e vítimas da repressão para depor a partir de 2 de outubro. A imprensa local informou neste domingo que entre os convocados pela juíza Graciela Gatti estão o ex-comandante do Exército tenente-general Ángel Bertolotti, e o ex-comandante da Marinha, vice-almirante Tabaré Daners, assim como o atual Chefe da Força Aérea, brigadeiro Enrique Bonelli. Os três são signatários do último relatório militar sobre desaparecidos durante a ditadura (1973-1985). Também foi chamado a prestar depoimento o advogado Javier Miranda, filho do escrivão Fernando Miranda, assassinado em 1974 e cujos restos foram achados poucos meses atrás em um túmulo clandestino do 13º Batalhão de Infantaria de Montevidéu. Também testemunharão o advogado Carlos Ramela, membro da Comissão da Verdade criada durante a Presidência de Jorge Batlle (2000-2005), o jornalista Roger Rodríguez e o coronel Gilberto Vázquez, preso por delitos de associação para crime e privação de liberdade pelo desaparecimento de um uruguaio na Argentina, em 1976. Passarão pelo sétimo Juizado Penal de Montevidéu Alicia Sabatel e Estela Reyes, que sobreviveram à repressão. Bordaberry, que foi eleito nas urnas em 1971 e tornou-se ditador em 1973, foi denunciado pelos advogados Hebe Martínez Burlé e Walter de León, que o acusam de "atentado à Constituição" e "co-autoria de crimes contra a humanidade". Segundo os advogados denunciantes, Bordaberry deverá ser julgado como "réu de lesa-pátria" e processado pela co-autoria de múltiplas privações de liberdade, associação para crime, revelação de segredos políticos e militares. Na denúncia, Bordaberry também é responsabilizado por um aumento desproporcional da dívida externa do país, que passou de US$ 500 milhões para US$ 5 bilhões durante seu mandato. No Uruguai, a Lei de Caducidade que perdoou os militares não contempla civis e fatos ocorridos fora do país, como parte da coordenação de atividades repressivas entre regimes ditatoriais conhecida como Plano Condor.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.