Julgamento de terroristas de Madri começa em clima tenso

Considerado o "ideólogo" dos atentados, Rabei Osman El Sayed recusou-se disse que só responderá às perguntas de seu advogado; ataques deixaram 191 mortos

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Por Agencia Estado
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O julgamento dos suspeitos de planejar e executar os atentados que deixaram 191 mortos em março de 2004 em Madri começou em clima de tensão nesta quinta-feira, com o principal acusado pelo ataque recusando-se em prestar depoimento como testemunha. Considerado o "ideólogo" dos atentados, Rabei Osman El Sayed, conhecido como "Mohammed, o Egípcio", voltou atrás instantes depois e aceitou responder as perguntas de seu advogado, o espanhol Endika Zulueta. O julgamento que determinará o destino dos 29 acusados pela matança de 11 de março de 2004 começou com o chamado do presidente do tribunal, Javier Gómez Bermúdez, que convocou Rabei Osman El Sayed a se pronunciar. O Egípcio está sendo processado como suposto mandante do crime. "Não reconheço nenhuma acusação, nenhuma denúncia e, com todo respeito aos senhores presidente e los magistrados, não irei responder a nenhuma pergunta, nem sequer às de meu próprio advogado", disse ele após a primeira intervenção do juiz. O acusado tentou explicar as razões do motivo de sua recusa em falar, mas o presidente do tribunal o impediu, recordando que como testemunha ele tinha o direito de se manter em silêncio e de não se confessar culpado. Diante da negativa inicial de que não responderia às perguntas, o tribunal autorizou a leitura das declarações do Egípcio durante os primeiros procedimentos do processo. Nestas declarações, Sayed explicou que chegou à Espanha em julho de 2001 e que se mudou para Paris em 26 de fevereiro de 2004, onde permaneceu até 13 de dezembro. Em seguida, ele teria se dirigido a Milão, cidade em que residiu até 8 de junho de 2005, quando foi detido. No mesmo procedimento, Sayed reconheceu ainda que durante sua passagem por Madri freqüentou mesquitas da cidade com a intenção de aprender espanhol, lugar em que teria conhecido Fouad El Morabit El Amghar, outro dos acusados. A promotoria pede 12 anos de prisão para o suspeito. Suposto membro da Jihad Islâmica Egípcia - grupo que seria vinculado à Al-Qaeda -, Sayed foi condenado em novembro a dez anos de prisão na Itália por terrorismo. Segundo a sentença, o suspeito seria "um membro influente de Al-Qaeda e parte da célula islâmica acusada pela tragédia de Madri". O Egípcio vinha sendo investigado na Itália pelo suposto recrutamento de guerreiros islâmicos para a guerra do Iraque, mas foi preso após o surgimento da suspeita de que ele pretendia abandonar o país e preparava novos ataques na europa. Em maio de 2004, a promotoria de Milão havia comunicado à Justiça espanhola que em duas conversas telefônicas interceptadas pela polícia italiana o Egípcio havia se identificado como o autor intelectual dos ataques de Madri. A Itália entregou Sayed temporariamente à Espanha para que o julgamento pudesse ser realizado. De acordo com as transcrições das conversas, o Egípcio teria dito sobre o 11 de Março: "Foi tudo minha idéia ... Custou-me muita paciência e estudo ... Foi um projeto que me levou dois anos e meio ... E os que morreram são mártires e meus queridíssimos irmãos."

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