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Justiça argentina inicia julgamento de atentado à AMIA

Por Agencia Estado
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Começou na tarde de hoje o julgamento dos envolvidos no único atentado realizado por terroristas fundamentalistas muçulmanos na América do Sul: a destruição, com um carro-bomba, da associação beneficente judaica AMIA, ocorrida em 1994, na capital argentina. O julgamento ocorre sete anos e dois meses depois da explosão que matou 85 pessoas e mutilou e feriu outras trezentas. O julgamento está sendo realizado sob estritas medidas de segurança em um subsolo do edifício dos Tribunais, no bairro de Retiro. Calcula-se que o julgamento durará entre 7 e 10 meses e contará com o depoimento de 1.470 testemunhas, entre os quais está o do brasileiro Wilson dos Santos, que teria alertado o consulado argentino em Milão sobre o ataque semanas antes de ter ocorrido. O atentado é atribuído ao Hezbollah, como também o ataque terrorista precedente, que destruiu a embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992. No total, existem 20 pessoas detidas, acusadas de terem participado da conexão local que realizou o atentado contra a AMIA. Destes, 15 são ex-policiais de "La Bonaerense", a polêmica polícia da província de Buenos Aires, sobre a qual pairam décadas de acusações de atividades mafiosas. Os policiais teriam fornecido os explosivos e o carro-bomba, uma van Traffic. Por causa dos recentes atentados em Nova York e Washington, as medidas de segurança foram reforçadas além do previsto. Para se entrar na sala de julgamento, as medidas são de uma magnitude nunca vista antes no país: até os juízes devem mostrar o conteúdo de suas pastas ao entrar no edifício. A segurança está a cargo de duzentos policiais, incluindo franco-atiradores e especialistas em bombas. Pouco antes do início da sessão, no meio da tarde, os promotores Eamon Müller e José Barbaccia afirmaram que existem provas sólidas contra os acusados. "Podemos ter algumas surpresas, já que algumas testemunhas contariam algumas coisas que até agora não falaram". Diana Malamud, da organização "Memória Activa" - que reúne parentes das vítimas da AMIA -, considera que houve máfias que interromperam o andamento das investigações. "A polícia colocou pistas falsas que desviaram a investigação do atentado", sustenta. "Sinto ansiedade e dor, já que pela primeira vez vou me encontrar cara a cara com alguns dos responsáveis", afirmou Olga Degtier, mãe de Cristian, um jovem de 21 anos que morreu sob os escombros do edifício da AMIA. "O início do processo demorou muito. É positivo que comece. Temos que chegar à verdade", disse o presidente Fernando de la Rúa. O presidente rebateu as declarações do secretário de Segurança, Enrique Mathov - realizadas no fim de semana -, de que a Argentina "é um país sem segurança". Segundo De la Rúa, "estamos reforçando a vigilância em todo o país". No entanto, um dos principais especialistas em Oriente Médio do país, Horacio Calderón, "a Argentina é um alvo fácil para um terceiro atentado". Segundo o especialista, que previu que depois do ataque à embaixada de Israel ocorreria outro atentado, o presidente De la Rúa "não poderia cometer o mesmo erro que o ex-presidente Carlos Menem, que acompanhou os EUA em uma ofensiva militar (a Guerra do Golfo), quando mandou navios de guerra. É melhor que essas naves protejam objetivos civis como Buenos Aires". Calderón considera que a Argentina poderia ser alvo de um ataque de destruição em massa, como um atentado bacteriológico ou nuclear.

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