Justiça condena terrorista do ataque contra escola em Beslan

Mas os parentes das vítimas afirmam que a justiça russa está acobertando os "verdadeiros culpados da tragédia"

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Por Agencia Estado
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A Corte Suprema da Ossétia do Norte condenou nesta terça-feira Nurpasha Kulayev, o único sobrevivente do comando terrorista checheno que em 2004 invadiu a escola número 1 da cidade de Beslan, em um ataque no qual morreram 331 reféns, entre eles 186 crianças. Segundo o presidente do Tribunal Supremo, Tamerlan Aguzarov, o acusado participou de assassinatos, tentativas de assassinatos, seqüestros de pessoas, porte e transporte ilegal de armas, além de pertencer a um grupo armado, informou a agência Interfax. Fontes judiciais adiantaram que a leitura de toda a sentença contra Kulayev, de 24 anos, pode durar vários dias. O procurador-geral adjunto da Rússia, Nikolai Shepel, pediu pena de morte para o réu por oito acusações diferentes. Embora a pena de morte ainda faça parte do Código Penal, desde 1996 a Rússia evita sua execução. A leitura da sentença, que acontece na sede do Supremo, em Vladikavkaz, capital da Ossétia do Norte, ocorre em meio a medidas extraordinárias de segurança nas imediações do tribunal, onde foram colocados mais de 100 policiais. Kulayev, que se declarou inocente de todas as acusações, foi o único membro do comando terrorista capturado vivo pelas forças de segurança russas durante a operação para libertar cerca de 1.000 reféns na escola de Beslan. Em 1 de setembro de 2004, um grupo de terroristas - entre eles Kulayev - invadiu a escola número 1 de Beslan e tomou 1.127 reféns, a maioria mulheres e crianças. Dois dias depois, uma explosão dentro da escola - acidental, segundo a versão oficial russa - provocou uma confusa operação de resgate na qual morreram 331 reféns, entre eles 186 crianças, 3 socorristas e 10 agentes do Serviço Federal de Segurança (o FSB, antigo KGB). Durante a operação, foram mortos 31 dos 32 terroristas e 728 reféns ficaram feridos, além de outras 55 pessoas entre policiais, agentes do FSB e funcionários de outros corpos de segurança. A comissão parlamentar russa que investiga as causas e as circunstâncias da tragédia de Beslan anunciou que apresentará suas conclusões definitivas em julho. "Estabelecemos que o ataque (das forças de segurança) não estava planejado, pois no momento da explosão, que aconteceu dentro da escola, as tropas especiais preparavam um plano para libertar os reféns", disse o presidente da comissão, o senador Alexandr Torshin. Familiares das vítimas de Beslan denunciaram que a causa da operação de resgate improvisada foi a explosão de um projétil disparado por forças de segurança contra a escola, e que as autoridades desde o início apostaram em uma solução violenta para libertar os reféns. Em suas conclusões preliminares, a comissão parlamentar destacou que o ataque terrorista contra a escola de Beslan poderia ter sido evitado se as forças de segurança tivessem cumprido as instruções recebidas de Moscou e redobrassem a vigilância no primeiro dia do ano letivo. As "Mães de Beslan", organização que reúne as mães das crianças mortas na escola, insistem em que as autoridades russas estão fazendo o possível para salvar os "verdadeiros culpados da tragédia" e tornar Kulayev o único culpado da morte de centenas de inocentes. Além disso, os familiares das vítimas exigem que os membros do gabinete de crise criado para enfrentar o seqüestro em massa sejam processados por "incompetência criminosa", e pedem a punição dos responsáveis de segurança por não terem impedido o ataque.

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